«Quase
duas décadas passadas sobre o fim do regime do apartheid e o advento da democracia na África do Sul, a cena
artística daquele país é actualmente uma das mais vibrantes do continente
africano. O que não é de estranhar, sabendo-se que a África do Sul é o país que
possui as melhores e mais bem estruturadas instituições nas áreas ligadas à
produção e à criação artísticas, existindo em muitas das grandes cidades
escolas, museus, centros de arte e galerias, com mais ou menos relevância.
Depois da Bienal de Joanesburgo, que teve apenas duas edições, em 1995 e 1997,
a Joburg Art Fair, feira de arte contemporânea que se realiza na mesma cidade
desde 2008, e algumas importantes galerias, como a histórica Michael
Stevenson, com dois espaços expositivos, na Cidade do Cabo e em Joanesburgo,
têm tido um papel decisivo na promoção e divulgação dos artistas sul-africanos,
não só a nível nacional como também internacionalmente, assim como têm
igualmente conseguido fomentar internamente uma prática coleccionista, existem
já algumas importantes colecções, como a Colecção Enthoven, dedicada a artistas
nacionais. Ao longo destes anos pós-apartheid, os artistas
sul-africanos têm reflectido de formas diversas e em diversos suportes,
pintura, escultura, vídeo, performance, fotografia, instalação sobre aspectos
relacionados não só com as mutações a acontecer no país e no continente
africano, num contexto de globalização, mas também aspectos em que a sua
redefinição identitária enquanto povoação em busca de novas formas de
relacionamento é questionada. Alguns deles, como
Marlene Dumas (n.1953) e Robin Rhode (n.1976), por exemplo, vivem
e trabalham no estrangeiro; outros, como David Goldblat (n.1930), William
Kentridge (n.1955), Nicolas Hlobo (n. 1975) e Mary Sibande
(n.1982), vivem e realizam os seus trabalhos artísticos na África do Sul.
Durante
o verão de 2011, à semelhança do que vem acontecendo desde 2009, os visitantes
do jardim Gulbenkian foram surpreendidos por um conjunto de instalações e esculturas
aí realizadas por vários artistas portugueses e estrangeiros, convidados no
âmbito do Programa Próximo Futuro. No verão passado, uma das artistas
convidadas foi Nandipha Mntambo, nascida na Suazilândia em 1982 e a viver e
trabalhar na Cidade do Cabo, que criou para o jardim uma envolvente construção
em bambu, espécie de abrigo que denominou de Cocoon, “Casulo”.
Nandipha
Mntambo é uma das jovens artistas que
emergiu na cena artística sul-africana nos últimos anos, fez a sua primeira exposição
a solo, em 2007, na Galeria Michael Stevenson, na Cidade do Cabo, cujo trabalho
se tem construído a partir da utilização do corpo e de histórias pessoais, utilizando
como material privilegiado a pele de vaca. A escolha deste material para as
suas esculturas, em que usa como molde/modelo o seu próprio corpo e o de sua
mãe, é descrito por Mntambo como:
- “um meio para subverter as expectáveis associações entre presença corporal, feminilidade, sexualidade e vulnerabilidade”.
O
resultado são peças poderosas e perturbadoras, de formas por vezes ambíguas e
mais abstractas, mas sempre com uma grande carga poética. Em 2011, Nandipha
Mntambo ganhou o prémio que o Standard Bank anualmente atribui a jovens
artistas da África do Sul e foi realizada uma exposição antológica da sua
obra na Galeria Michael Stevenson, na Cidade do Cabo.
A
edição especial do catálogo, de apenas 10 exemplares assinados, que a Biblioteca de Arte possui no seu acervo
documental tem na capa de tecido vermelho uma intervenção da artista com pelos
de vaca». In Ana Barata, FCG, Nandipha Mntambo,
Standard Bank Young, Cape Town;
Johannesburg, Stevenson, 2011, Livro de artista, Exemplar nº 7 de uma edição de
10, assinado e numerado pela artista; ex. encadernado a tecido de linho
vermelho, com uma colagem de pelos de vaca na capa, acondicionado numa caixa
forrada a tecido bege, ISBN 978-0-620-50664-9,
Newsletter, Novembro / Dezembro de 2012.
Cortesia de FCG/JDACT