segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Para os Amigos que fizeram a “VIAGEM” nesta época. Na areia fina o singelo traço de dois destinos num caminho. «Muito desgosto te espreita ao longo da vida, mas a vara está direita, tua missão foi cumprida. E quando, por teus pecados, te pesarem na balança, tira-te dos teus cuidados, tens pecados de criança»


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In Memoriam de FJB e MMR

«Para lá deste olhar profundo, há outro espaço, outro mundo, que não sei dizer. Unicamente sinto e pressinto a realeza de estar vivo quando pardais soltos voam sobre mim e espalham liberdade em meu redor, num chilrear constante e melodioso que transforma pensamentos em palavras e enche páginas brancas do meu Eu.
Mas muito mais do que palavras, paira no ar o silêncio de horas gastas, que adia respostas, porque perguntas não há que resistam ao fugitivo, sempre em viagem de sonhos.
Não preciso sequer de tentar compreender a distância que separa a Vida da Morte. O tempo não é o que escolhi, mas sim o espaço onde mora o meu corpo, rodeado de outros corpos inquietos, indecisos e desesperados, à procura de coisas exteriores que não alimentam o sentido da vida.
E tantas vezes obrigado a não ser livre no mundo dos outros, escolho a solidão num canto do meu jardim, onde fecho a porta à hipocrisia e ao egoísmo, em defesa do castelo que construí. Aqui dentro, sim, tenho tudo aquilo que enche a alma de ar puro e fresco, porque num espaço sem gente, a força da razão e do amor suplanta a nostalgia de estar só. Neste lado de cá, encontro-me mais dificilmente e cada vez mais raramente, porque o vazio inunda a alma das gentes, tão perdidas num labirinto de materialismo e malabarismo. Nesta sociedade que brilha simplesmente à custa do sol, sobressai a pequenez do Ser, mirrado de inveja e vaidade.
Consumindo e consumido, o Homem transborda de agressividade, denunciando-se a si próprio.
Espectador das muralhas do meu castelo, enxergo as dores das crianças. Esses olhos inocentes e profundamente tristes, que nada entendem da crueldade do Homem.
Muitas lágrimas, que então ensopam o rosto do meu Eu, descem à terra seca para que as flores voltem a nascer!»

JDACT