«De acordo com os costumes lusitanos, o primogénito era o único
herdeiro dos bens familiares, e por isso, Viriato, como terceiro filho, o
segundo era uma rapariga, tinha-se visto obrigado, como muitos outros jovens, a
adoptar a rude vida dos bandos que saqueavam as terras do sul. Também se conta
que se destacou muito cedo pelas suas qualidades; seu pai, Comínio, antes de
partir para a guerra, deixou-o, com cinco anos, juntamente com a mãe e os
irmãos sob protecção dos igeditanos. O pai terá morrido em combate e Viriato teria crescido entre os guerreiros
de Igedium com os quais se treinou nas artes da guerra. Contam também
que viveu muito tempo nas montanhas como pastor, e que aos dezasseis anos era
já um homem feito e destro, curtido pelo vento e pelo ar livre, de enorme resistência
física e possuindo uma admirável capacidade de comando, ao ponto de o primeiro
bando que integrou o ter eleito chefe. Mas tudo isto não passa de pura ficção,
ou pelo menos, de parte da lenda. Nada é mencionado a este respeito nas fontes literárias,
e esta circunstância vem confirmar a hipótese da sua origem humilde. Também
nada sabemos dos primeiros anos da sua infância que deve ter passado
tranquilamente a correr pelas montanhas que o viram nascer e crescer.
Há algumas referências à sua juventude em Apiano, Diodoro e Dião
Cássio que no-lo apresentam primeiro como pastor e caçador e depois como
salteador e chefe de quadrilhas de bandoleiros, muito comuns na Lusitânia, e
que viam na rica comarca andaluza da Bética, pelo menos temporariamente,
o seu objectivo natural; e, finalmente, é-nos apresentado como caudilho e chefe
dos lusitanos. Portanto, Viriato
passou a sua juventude nas montanhas apascentando gado e em seguida, como
muitos pastores lusitanos e montanheses, tornou-se bandido. Mas pelas suas
qualidades pessoais é escolhido para chefiar as incursões pelas terras férteis
da Bética e, por fim, torna-se no chefe dos lusitanos na luta contra Roma.
Ainda muito jovem esteve, com certeza, entre os lusitanos que iniciaram
a guerra contra Roma nos anos 154-153, como sabemos por Lívio, Diodoro,
Floro, Orósio, Eutrópio e Dião Cássio, participando nas pilhagens
atribuídas aos lusitanos. Na juventude, Viriato
foi moldado espiritual e fisicamente pela vida rude das montanhas. Além disso,
adquiriu a vigorosa compleição que se lhe atribui nas fontes pela luta
constante contra os elementos, contra animais selvagens, e ainda em tenra
idade, contra homens. Segundo estas mesmas fontes era extraordinariamente
forte, rápido e ágil, e também muito parcimonioso na comida e no sono. Diodoro
salienta que estava tão endurecido desde a juventude que era insensível à fome,
à sede, ao calor e ao frio.
Já na sua juventude, Viriato
revelou um talento militar inato. Neste sentido, Estrabão atribui-lhe em
especial a habilidade dos lusitanos como espiões, ao armarem emboscadas e conseguirem
escapar, evitando perigos e situações adversas. Viriato reunia todas as capacidades que posteriormente o
converterão num mestre da guerra de guerrilha que tantas dores de cabeça deu
aos romanos, durante estas guerras». In Maurício Pastor Muñoz, Viriato La Lucha
por La Liberdad, Viriato, A Luta pela Liberdade, Alderabán, Ediciones,SL, 2000,
Ésquilo, Lisboa, 2003, ISBN 972-8605-23-4.
Cortesia de Ésquilo/JDACT