sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Conferências Públicas. 1891. Rio de Janeiro. Christovam Colombo e o Descobrimento da América. Pereira da Silva. «Nenhuma nação possuía marinha militar propriamente dita e apenas exércitos, dando-se as grandes batalhas e excursões bélicas em terra e só em terra. Havia, porém, em um canto da Europa, o mais Ocidental, banhado pelo Atlântico, um povo pouco numeroso, mas guerreiro…»

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NOTA: De acordo com o original

Christovam Colombo. O Descobrimento da America
Primeira Gonferencia. 17 de maio de 1891
«Subindo hoje a esta tribuna que, ha cerca de dous annos, conserva-se muda, deserta, abandonada, e relanceando os olhos pelo auditório no intuito de comprimental-o, e agradecer-lhe o comparecimento, assalta á meu espirito uma idéa triste, confrange-se-me o coração com uma dolorida reminiscência. Noto a falta de um grande patriota que desde o começo e durante muitos annos seguidos honrou sempre estas conferencias, animando os oradores com sua presença, incitando os ouvintes com suas palavras, áquelles pedindo a perseverança no trabalho, a estes aconselhando concorressem afim de se alcançarem resultados vantajosos e profícuos aos estudos scientificos e litterarios. Refiro-me a Pedro II, que ora, ingratamente expellido da pátria, sente decerto ainda bater-lhe o coração de saudades por ella, e faz votos ardentes pela sua felicidade e futuro.
Pago este tributo de gratidão, prestada uma homenagem devida de respeitosa saudação, passo a tratar do assumpto annunciado para nossa conferencia de hoje, appellando, como em outras occasiões, para a vossa benevolência. Sorriu-me esta idéa com a leitura dos annuncios publicados em periódicos de varias nações. No próximo anno de 1892 celebrar-se-ha o quarto centenário do descobrimento da America. Achamo-nos na America, somos Americanos, porque nos não recordaremos de época tão memorável!

Para que se comprehenda, porém, a historia do descobrimento da America, necessário nos é começar pelo estudo da situação social, politica, económica, scientifica ,e litteraria da Europa durante o século XV. Sahia da edade média, penetrava na da renascença, e passava por extraordinárias evoluções. Cahia a feudalidade, isto é, o domínio despotico, brutal e caprichoso de fidalgos, senhores de castellos, de cidades, de vastos territórios, tanto leigos como ecclesiasticos e que, independentes dos chamados reis e imperadores, victimavam os povos residentes em suas terras e sob seu jugo.
Elevava-se sobre as ruinas do feudalismo o poder illimitado dos monarcas, que começavam a governar nações maiores e mais unidas: apparecia já também á tona d’agua, reclamando liberdades civis, a classe média e popular, que até então existira esmagada e submettida. Desenvolvia-se a industria e o commercio; propagava-se a instrucção que estava monopolizada nos claustros, privativa quasi dos representantes da egreja christã qae succedera ao antigo culto do polytheismo pagão.
Occupava-se, todavia, toda a Europa em guerras ou intestinas ou externas: Itália era presa de estrangeiros; França lutava com Inglaterra, unida á Bourgonha e Bretanha; Allemanha fazia e desfazia imperadores nominaes; Hespanha brigava com Árabes e Mouros, ainda donos de parte de seu solo, e repartia-se também em vários estados christãos independentes. O império grego de Constantinopla estorcia-se em paroxismos diante das invasões e victorias dos Turcos asiáticos, que o assaltavam de continuo.
Nenhuma nação possuia então marinha militar propriamente dita e apenas exércitos, dando-se as grandes batalhas e praticando-se as excursões bellicas em terra e só em terra. Havia, porém, em um canto da Europa, o mais Occidental, banhado pelo Atlântico, um povo pouco numeroso, mas guerreiro. Firmara na batalha de Aljubarrota por uma vez sua nacionalidade apoz três séculos de separação e tal qual independência do resto das Hespanhas». In J. M. Pereira da Silva, Conferências Públicas, propriedade do Instituto Histórico e Geographico Brazileiro e Academia Real de Sciencias de Lisboa, Brazil, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, Library University of California, 1892.

continua
Cortesia de IHGB/ARC de Lisboa/JDACT