quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Obra Poética. Sophia de Mello Breyner Andresen. «Mistério das luzes e das sombras sobre os caminhos de areia, rios de palidez em que escorre sobre os campos a lua cheia, ansioso subir de cada voz, que na noite clara se desfaz e morre»

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Poesia I, 1944

Apesar das ruínas e da morte,
onde sempre acabou cada ilusão,
a força dos meus sonhos é tão forte,
que de tudo renasce a exaltação
e nunca as minhas mãos ficam vazias.


Noite
Mais, uma vez encontro a tua face,
ó minha noite que eu julguei perdida.

Mistério das luzes e das sombras
sobre os caminhos de areia,
rios de palidez em que escorre
sobre os campos a lua cheia,
ansioso subir de cada voz,
que na noite clara se desfaz e morre.

Secreto, extasiado murmurar
de mil gestos entre a folhagem,
tristeza das cigarras a cantar.

Ó minha noite, em cada imagem
reconheço e adoro a tua face,
tão exaltadamente desejada,
tão exaltadamente encontrada,
que a vida há-de passar, sem que ela passe,
do fundo dos meus olhos onde está gravada.

Poemas de Sophia Breyner Andresen, in ‘Obra Poética’


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