Os números marcados nesta planta parcial da vila de Alvito correspondem
aos das estampas extra-texto e localizam sensivelmente os assuntos respectivos,
não figurando o número 27 porque a Horta do Padre está situada por
Nascente e fora da vila.
jdact e luizpinamanique.
«São ainda bastante numerosas pelo
Baixo Alentejo as características construções da época manuelina, que tão
notável se tornou na arte portuguesa. Nelas se manifestam, simultânea ou
isoladamente, os dois modos especiais de inspiração naturalista e de influência
mudéjar além do gótico regional que em várias outras se manteve.
E, se o segundo é de maior relevo nalguns dos seus castelos e construções
apalaçadas, o primeiro não foi menos apreciado porque, a par dos ajimezes
e janelas de arco de ferradura construídas de tijolo, também se encontram os
portais ornamentados, de mármore e de granito, no modesto casario das suas vilas
mais antigas.
Em Alvito, há um castelo com elementos
dos dois tipos, salientando-se o amouriscado, tanto nas janelas da fachada
sul-nascente, viradas sobre a cerca, como nas do pátio da entrada, do lado da
escadaria principal; na povoação, aparecem unicamente os portais do primeiro
tipo, com recorte e adornos de grande singeleza, mostrando que a vila preferiu
a simplicidade no traçado das suas linhas e na escolha do pormenor aos
complicados arranjos decorativos que depois neles intervieram.
É um modo curioso pela feição
ornamental e avultado número de peças manuelinas que apresenta e vulgarmente se
não encontra nas povoações do Alentejo. Sem o progredir constante dos grandes
povoados, onde geralmente as novas construções eliminaram em grande parte ou por
completo as antigas, a vila conservou-se estacionária e como que adormecida no
espaçar de longos séculos, guardando o aspecto especial da época manuelina, sem
se ter modificado por várias influências que surgiram, o que também muito a
destaca de outras vilas da mesma época.
A arte sem dúvida é modesta, de expressão
rude nos motivos escolhidos e, por vezes, muito ingénua nas diversas
combinações decorativas, a fantasia dos seus artífices na adaptação ornamental não
apresenta realmente grande primor de execução, mas não deixa o seu conjunto de
mostrar certa beleza, elegância e constante tipo de unidade no talhe profundo
dos ornatos de tão singelas construções.
Delas se reproduzem, nas estampas
incluídas nesta notícia, os elementos mais notáveis ,em confronto com os
adoptados no castelo, que revelam as correntes dominantes na respectiva arquitectura
durante a época manuelina e o modo preferido em toda a vila pela arte popular,
no geral sempre difícil em aceitar sugestões, que não representem tradição ou resultem
de tendências que se lhe não afigurem nacionais, mormente no Alentejo, cujo
sistema rural artístico, mais do que em qualquer outra província, mantém quase
inalterável, com as mais típicas e curiosas produções, a feição dos velhos tempos
na maneira regional.
A edição é subsidiada pelo Instituto
para a Alta Cultura, que deste modo lhe concede o seu elevado patrocínio e
muito facilita a divulgação dos valores artísticos da região alentejana». In Março
de 1949.
Alvito é uma curiosa vila alentejana que conserva quase intactas as suas construções manuelinas, entre as quais avulta o castelo maciço e imponente. Foi povoação de algum relevo e ponto de referência bastante nomeado do Alentejo, servindo até o seu topónimo para distinguir, de outras vilas do país, as de Viana e de Vila Nova da Baronia, porque tanto uma como a outra foram antigamente mais conhecidas por Viana de a par de Alvito e Vila Nova de Alvito.
Apesar de tão velho uso, que muito divulgou o nome da povoação, do
aspecto arquitectónico do castelo e do grande número de peças quinhentistas dispersas
pela vila, que embelezam as portas e janelas do seu modesto casario e reflectem
o acentuado empenho que então houve em adoptar nas construções a feição
manuelina, ligeiras são as referências que os cronistas e escritores até hoje
lhe fizeram». In Luiz de Pina Manique, A Arte Manuelina na Arquitectura de Alvito,
Impressões e Apontamentos, Associação dos Arqueólogos Portugueses, Edição
subsidiada pelo Instituto para a Alta Cultura, Lisboa, oficinas gráficas de
Bertrand, Irmãos, 1949.
Cortesia de AAPortugueses/JDACT