Os assistentes sociais no movimento de oposição ao Estado Novo (1969-1973)
Dos propósitos
«O artigo que agora se
apresenta tem subjacente a dissertação de Mestrado defendida no passado Março
de 2004. Identificando algumas das palavras-chave, com o discurso da
resistência ou a resistência do discurso, pretendeu-se uma pequena
aproximação ao passado recente, mas agora, assumindo formas equidistantes da
imagem conservadora do Serviço Social, no seio do Estado Novo. O Serviço Social surgiu incorporando
discursos. O título o discurso da resistência ou a resistência do
discurso, mais não pretende reflectir que um tipo de posicionamento rompendo
com uma resistência discursiva de tipo conservador, para outro, de esforço de oposição
aliado ao discurso da própria resistência. Aqui o conceito de resistência mais não
serviu que para imprimir um maior impacto às acções oposicionistas, em toda a
sua amplitude.
A palavra ou as palavras
encerram em si conceitos que se reportam a discursos e que, por sua vez, aludem
a processos, ideologias, comportamentos, éticas, movimentos e instituições. Se
existiu um discurso oficial no seio da profissão de Serviço Social, acredita-se
que, paralelamente, tenham proliferado muitos discursos não oficiais, praticados
na singularidade, sendo estes, determinantes à alteração do curso da história. Focou-se
o fluxo da oposição para nele desbravar assistentes sociais com participação
cívico-política. Descobrir os seus segmentos de inserção foi a
proposta, sendo que, imediatamente, surgiu o movimento CDE, através dos actos eleitorais de 1969 e 1973, para a Assembleia Nacional
e os seus efeitos multiplicadores ao nível da contestação social.
Ao edificar-se a história
do Serviço
Social, abrem-se novas potencialidades ao perceber
que, apenas por esta lupa
se poderão observar recantos mais ou menos obscuros e esquecidos, introduzindo
até, alguma justiça face a factos tornados senso comum como, por exemplo,
decorrente de uma ligação lógica entre a profissão e o Estado Novo, representar
os assistentes sociais como um massa acrítica e apolítica e, sobretudo, portadora
de uma neutralidade atrofiante.
Quanto ao ponto de
partida da investigação
Para a construção do conhecimento
é essencial este dialogar com a realidade do tempo passado muitas vezes oculta
e ocultadora. Desbravar um plano de discursos e de intervenções cívicas
daqueles que se distinguiram do papel ideologicamente instrumentalizador,
dominante na profissão, foi a proposta. Esta confluência de interesses
introduziu o período anterior a 1974 onde, o Serviço Social se
encontraria, supostamente, e num primeiro acercar, despojado de uma perspectiva
política, tanto no sentido partidário, como, concebendo política como toda e qualquer
acção crítica como alternativa a uma ordem, não se encontrando por isto, o Serviço
Social inscrito, por sectores ou pessoas, nos movimentos oposicionistas
ao Estado Novo.
Definiram-se os
seguintes eixos de análise que acabaram por corresponder, genericamente, à
estruturação da própria dissertação:
Existiu a preocupação de
caracterizar o contexto social e político anterior a 1974 e produzir alguma
teorização sobre o movimento de oposição;
Os processos eleitorais
para a Assembleia Nacional de 1969 e 1973, nas suas causas e consequências;
Analisou-se brevemente o
Serviço
Social para se identificar a emergência de uma nova consciência, por
via da inserção dos profissionais no movimento de oposição, nomeadamente,
através dos seguintes eixos de análise: Movimento CDE; Associativismo, através
do sindicato dos Profissionais de Serviço Social; Prática e formação
profissional identificando-se, neste plano, os aspectos germinais de um
movimento de crítica; Inserção no espectro politico-partidário; Movimentos de
solidariedade como a Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos e as
vigílias pela Paz; Cooperativas culturais e outras associações, como a Pragma e
a Confronto; Movimentos de mulheres, estudantes e jovens.
Tecendo
considerações sobre os conceitos
Deambular pela
genealogia da liberdade foi a proposta subjacente que implicou abordar contextos
antagónicos, inscritos na repressão e nos processos de luta, de oposição. Pois,
conforme defende Touraine, para que um movimento se forme não deverá
unicamente opor-se a um controle ou dominação, mas reivindicar em nome de um
atributo positivo:
- a Liberdade. O conceito de oposição está sempre presente, sendo, a partir do qual, os passos metodológicos gravitaram.
No acto de investigar,
houve que assentar alguns pressupostos sobre o que se considera movimento de
oposição, estabelecendo-se uma aproximação à teoria dos movimentos políticos». In
Adília Ferreira, Wikipédia, bibliografia de Alcina Martins, A formação Académica
dos Assistentes Sociais, uma retrospectiva crítica da institucionalização do
Serviço Social no Estado Novo, revista Intervenção
social.
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