segunda-feira, 4 de março de 2013

A Vida Quotidiana no Egipto no Tempo das Pirâmides. Guillemette Andreu. «Com a sua descoberta do sistema hieroglífico, Champollion dava à luz a egiptologia, ciência que estuda com rigor e precisão todos os aspectos da civilização faraónica e que se subdivide em diversas especialidades…»

jdact

O nascimento da escrita
«Para diferenciar palavras homónimas e homófonas, recorre-se a diversos utensílios gráficos. Em geral, os verdadeiros ideogramas são seguidos de um traço vertical. Quando uma palavra se escreve com viários fonogramas, a leitura é auxiliada por sinais determinativos colocados no final dessa palavra para indicar a que categoria semântica ela pertence. Assim, todas as acções do Sol, nascer, pôr-se, brilhar, bem como as noções de tempo e da sua divisão, são determinadas pelo pictograma do disco solar.
Foram estas subtilezas, cuja combinação permitiu escrever alguns dos mais belos textos do património literário da humanidade, que Jean-François Champollion conseguiu captar em 1822, devolvendo assim a palavra aos escribas do antigo Egipto. Com a sua descoberta do sistema hieroglífico, Champollion dava à luz a egiptologia, ciência que estuda com rigor e precisão todos os aspectos da civilização faraónica e que se subdivide em diversas especialidades:
  • arqueologia,
  • epigrafia,
  • linguística,
  • história,
  • história de arte,
  • geografia religiosa,
  • antropologia religiosa,
  • estudo dos aspectos profanos,
  • da administração, etc.
A beleza das obras egípcias e o aparente mistério dos hieróglifos que as ornamentam despertaram inúmeras vocações de egiptólogos nos países ocidentais. O fascínio exercera-se já sobre os Gregos, quando, na senda de Alexandre, o Grande, no século IV a.C., o Egipto foi por eles descoberto. Por seu intermédio, alguns vocábulos egípcios chegaram às modernas línguas ocidentais. É o caso das palavras:
  • ébano,
  • goma,
  • saco,
  • íbis,
  • oásis,
  • basalto,
  • alabastro ou nenúfar.
Que são transcrições fonéticas pouco deformadas dos termos egípcios originais. A língua egípcia é parcialmente aparentada com as línguas semíticas, com as quais partilha algumas características, em particular o consonantismo: nos textos hieroglíficos, as vogais não são escritas, o que torna muito difícil a reconstituição da pronúncia. Também os acentos tónicos são graficamente ignorados, assim como as flexões devidas à entoação e as particularidades regionais que, não obstante, deviam ser bem marcadas num país que, de norte a sul, se estendia por mais de mil quilómetros. Escrita e falada durante mais de três milénios, a língua sofre uma evolução contínua e bastante bem documentada pelos linguistas. Cerca de 2000 a.C., contam-se uns 700 hieróglifos; no início da era cristã, distinguem-se já uns 5000, de múltiplas formas e valores.
O tempo das pirâmides é o tempo de uma língua arcaica durante o Império Antigo e clássica durante o Império Médio: a cada ano que passa, os progressos da egiptologia permitem precisar melhor o seu sentido e penetrar mais intimamente o pensamento egípcio. Os estudos actuais insistem muito nos constantes jogos de palavras gráficos a que se entregavam os escribas e os decoradores dos templos ou dos túmulos:
  • a correspondência ou mesmo a osmose entre o texto e a imagem é uma regra absoluta, pelo que a leitura das cenas dos monumentos faraónicos não se esgota na mera decifração dos hieróglifos gravados nas paredes.
É, em geral, nos textos do tempo das pirâmides, incisos nos muros das mastabas (túmulos privados do Império Antigo), que este duplo nível de escrita e de leitura é mais sofisticado e notável». In Guillemette Andreu, L’Egypte au Temps des Pyramides, Hachette Littérature, 1999, A Vida Quotidiana no Egipto no Tempo das Pirâmides, Edições 70, Lisboa, colecção de História Narrativa, 2005, ISBN 972-44-1237-7.

Cortesia de Edições 70/JDACT