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Poema de Amor
A noite é cheia de vales e baías.
E do meu peito aberto um rio largo de sangue…
Águas densas, de correntes lentas,
serpentes mortas a arrastarem-se.
Águas?
Água negras, pastosas, alcatrão rolante.
Mas águas-puras, verde-claras, atraindo
a margem donde os crocodilos fogem mastigando.
Águas em transparência lucilantes, para cima,
e as estrelas do mar, um polvo e um Mefistófeles
ficam no ar sobre ilhéus e lodosos calhaus
que se descobrem.
Plantas brancas e extáticas…
Lágrimas… Nuvens… E a cabeça, o perfil,
os olhos, todo o corpo da mulher amada, a
prostituta
antes de virgem, que é bela e feia, velha e nova,
e não conhece os filhos!
O fogo envolve essa mulher amada
e é um guindaste erguendo-a e atirando-a,
enquanto dispersas pelo chão brilham mandíbulas
naturalmente à espera…
Poema de
Edmundo Bettencourt, Funchal
(1889-1973)
In Maria Alzira Seixo. Os Poemas da Minha Vida. Público, 2005, ISBN
972-8892-78-0.
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