Nau do primeiro quartel do séc. XVI, pormenor do painel do retábulo de Vida e Martírio de Santa Auta
josepessoa e jdact
«Não pode ele ser confundido de modo algum, portanto, por exemplo, com
a Vida
e feitos de D. Vasco da Gama, descobridor da Índia, e dos mais, fidalgos
daquela família que militaram na Índia, da autoria de Francisco de
Andrade, embora, como lembrava António Coimbra Martins, em artigo publicado em
1981 (Paris, Fundação Calouste Gulbenkian), nos ‘Arquivos do Centro Cultural Português’, XVI, pp. 283-85, sob o
título ‘Quem Na Estirpe Seu Se Chama…’
‘l'un et l'autre demeurent inédits’. Não
integram, igualmente, o plano do Tratado os cinco Livros da Década XII,
aparecidos em Paris em 1645, e alusivos
ao primeiro governo de Francisco da Gama, como se disse bisneto de Vasco
da Gama e vice-rei da Índia por duas vezes (1597-1600 e 1622-28).
Insistimos: o Tratado é sobre o Gama e os seus filhos que passaram à Índia.
Exclui, portanto, os netos e os bisnetos. Aliás, António Coimbra Martins,
noutro artigo publicado em 1985 desfaz
todas as dúvidas a este respeito, quando afirma:
- Em 1601, já Diogo do Couto reserva para si mesmo, ao contrário do que afirmara em 1599, a elaboração e redacção da história do governo de Francisco. Não em crónica à parte, nem como apêndice ao Tratado dos Gama, mas no quadro da sua história da India Portuguesa, melhor ou pior repartida em Décadas.
Haverá uma outra cópia do Tratado
ou
até o original? Nos vários autores que consultámos não encontrámos
qualquer alusão à sua existência. E, na prossecução dessa eventualidade,
realizámos aturadas pesquisas na Secção
de Reserva dos da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, no catálogo
dos Manuscritos da Biblioteca Pública de Évora e no Arquivo Nacional
da Torre do Tombo. Nada encontrámos a este respeito, o que mais valoriza o
códice da Biblioteca Nacional de Lisboa e mais justifica a sua
publicação, uma vez que o seu estado de deterioração e de legibilidade tende a
agravar-se. Constatámos, isso sim, que Diogo
do Couto utilizou, na elaboração da Segunda Parte do Tratado que ora se
publica, alguns capítulos das suas Décadas IV, V e V, nalguns casos de forma
bastante aproximada entre os dois textos, noutros procedendo a elaborações
originais, a alterações, ajustamentos, cortes, junções ou acrescentos.
O cap. 1.º da Segunda
Parte do Tratado afigura-se não ter equivalência nas Décadas,
de Diogo do Couto, pelo que deve ter
sido composto propositadamente para a primeira destas obras.
O cap. 2.º corresponde
em parte ao cap. XI do Liv. VIII da Déc. IV (Parte II). Foi estabelecido o
cotejo usando a edição Da Asia de Diogo de Couto, Lisboa,
Na Regia Officina Typografica, Anno MDCCLXXVIII. A Primeira Parte deste capítulo
coincide muito pouco e até o próprio título tem alterações maiores do que é
comum.
O cap. 3.º tem pontos
de contacto com o cap. XII do Liv. VIII da Déc. IV (Parte II). Só cerca de
metade do título corresponde, sendo mais extenso na Década. A primeira parte
apenas apresenta alterações de forma, terminando no Tratado com a referência
às viagens de Banda. Na Década, Couto dá notícia das Ilhas de Banda, pelo que no Tratado
foi suprimido quase metade do texto.
[…]
In Diogo do Couto, Tratado dos Feitos de Vasco da Gama e de seus filhos
na Índia, organização de José Azevedo Silva e João Marinho Santos, Universidade
de Coimbra, Faculdade de Letras, Edições Cosmos, Porto, 1998, ISBN
972-762-081-7.
Cortesia da FL da U. de Coimbra/JDACT