«Muito ilustrativo e demonstrando o seu entusiasmo pela personagem é o
texto que Schulten escreve sobre a juventude de Viriato, antes de começar o que ele designa por Guerra
de Independência de Viriato. Diz o seguinte:
- Física e espiritualmente, Viriato era um genuíno filho da montanha. O seu corpo, vigoroso por nascimento, foi fortalecido, desde a mais tenra idade, pela rude vida de pastor, sem casa, nem lar, sob o céu imenso. Em constante luta, como pastor; caçador e bandoleiro, contra o vento e o mau tempo, contra as feras dos bosques e contra inimigos furiosos, tinha conseguido alcançar o perfeito domínio sobre corpo e espírito. Competia com qualquer um em força, rapidez e perspicácia, precisava apenas de uma pequena quantidade de alimento e de sono, e suportava facilmente a fome, a sede, o calor e o frio. Só sentia desprezo pela vida farta e deleitosa. No seu casamento com a filha do rico Astolpas, este exibiu, com grande ostentação, vasilhas de ouro e trajes caros, mas Viriato, apoiado na sua lança, contemplou calado e com ironia o sumptuoso banquete, recusou-se a participar pegou apenas num pouco de pão e carne para a sua gente, fez o sacrifício aos deuses, e por fim, saltou para o cavalo com sua esposa e embrenhou-se pela montanha selvagem, o seu mundo.
Viriato possuía igualmente
um apurado poder de observação, que se revelava em especial no conhecimento
topográfico do terreno, muito desenvolvido entre caçadores e pastores. Viriato conhecia perfeitamente as
montanhas lusitanas, conhecia cada recanto do seu território, por mais perdido
e recôndito que fosse. Mas também se orientava perfeitamente em terreno
desconhecido, escolhendo, em cada local, a melhor estratégia a seguir. Sabia
escolher os caminhos mais seguros para fugir ou para atacar. Estrabão
atribui aos lusitanos destreza na emboscada e na espionagem, engenho e
habilidade para se livrarem do perigo, que são quase as mesmas capacidades com
que Justino qualifica Viriato:
- ciência da astúcia, perícia para evitar os perigos.
No início da sua maturidade, em 150 a. C., é mencionado pela primeira
vez nas fontes escritas. Por essa altura os romanos tinham atacado os
lusitanos. O pretor da província Ulterior, Sérvio Sulpício Galba, e o da
Citerior, Lúcio Licínio Lúculo atacaram juntos. Os lusitanos, perante a
superioridade das forças romanas, renderam-se, e assinaram um pacto. Galba
não respeitou o pacto e mandou passar a fio de espada todos os lusitanos que
tinha conseguido juntar com a ardilosa promessa de uma distribuição de lotes de
terras. De acordo com as fontes, um dos poucos que conseguiu escapar ao
massacre foi Viriato. Depois do
massacre, refugiou-se entre os seus congéneres tribais que tinham invadido a Hispânia Ulterior. Já tinha, com certeza,
algum poder de chefia, embora fosse como lugar-tenente ou chefe subalterno das
tropas lusitanas. Tinha conseguido escapar graças à sua excelente capacidade
física e à sua rapidez de decisão. Qualidades que mais tarde lhe permitiram
assumir o comando das guerras lusitanas.
Desconhecemos que papel desempenhou Viriato nos anos que imediatamente antecederam a guerra, embora
seja provável que, a partir de 150 a.
C., tenha estado à frente das tropas lusitanas que corajosamente se batiam
contra os romanos. Nos três anos que vão de 150 a 147 a.C., Viriato
deve ter estado a preparar o seu exército para a grande insurreição contra
Roma. A partir daí, encontrá-lo-emos completamente imerso nos eventos bélicos
que tão bem conhecemos pelas fontes clássicas. Mas antes, debrucemo-nos sobre
mais alguns aspectos da vida da nossa personagem.
Personalidade
Tal como outros chefes militares, como Aníbal ou Sertório,
Viriato aparece na História dotado
de uma personalidade forte e fascinante. Graças a esta personalidade, conseguiu
manter-se durante mais de oito anos à frente dos lusitanos, que tanto amavam a
liberdade. Só em raras ocasiões este povo aceitou submeter-se ao comando de um
homem. Mas Viriato, graças à sua irresistível
personalidade, manteve-se no poder durante todo este tempo, não só como chefe, mas também como rei,
e como tal é reconhecido pelo Senado romano. Foi a sua personalidade carismática
que o manteve tanto tempo à frente do povo lusitano, como mais tarde sucedeu
com Sertório. É muito difícil saber com exactidão quantos anos permaneceu
à frente dos lusitanos, visto haver grande discrepância entre os dados que nos
facultam os autores clássicos». In Maurício Pastor Muñoz, Viriato La Lucha
por La Liberdad, Viriato, A Luta pela Liberdade, Alderabán, Ediciones,SL, 2000,
Ésquilo, Lisboa, 2003, ISBN 972-8605-23-4.
Cortesia de Ésquilo/JDACT