Protagonistas do drama
Um rei de tragédia
«(…) Apurou a Justiça, instituiu os Juízes
de Fora, e tomou outras medidas legislativas muito sábias. Viveu um reinado
turbulento, salpicado de violência, e hoje é difícil dizer se este rei era um
déspota dissimulado e cruel ou se foi um soberano bem avisado e corajoso que teve
de destruir com punho de ferro as ameaças que o rodeavam, a ele e ao seu reino.
Talvez fosse um misto de ambas as coisas.
Durante o seu reinado teve lugar a Batalha de Crécy, 1364, que deu início à Guerra dos Cem Anos, conflito que
iria martirizar grande parte da Europa durante mais de um século. Os refluxos
dessa guerra perturbaram as políticas dos reinos peninsulares, que, apesar de
não estarem directamente envolvidos nela, lhe sofreram os efeitos e as
consequências.
Afonso IV marido fiel, moralizador de costumes na corte portuguesa,
que no dizer de mestre Aquilino Ribeiro teria sido até aí uma tortulheira de bastardos, teve da sua rainha,
D.
Brites, sete filhos, dos quais apenas três chegaram à idade adulta, as
duas infantas D. Leonor e D. Maria e o herdeiro do trono, o infante
Pedro, que veio a ser seu sucessor.
D. Leonor casou com o rei de Aragão, Pedro IV apelidado o Cerimonioso, pelo apego às pragmáticas cortesãs que manifestava. Princesa de saúde débil, frágil, apesar
de bem cuidada pelo marido, morreu poucos dias depois do seu primeiro parto, em
que deu à luz a princesa D. Beatriz. Finou-se com vinte anos de idade,
escassamente com um ano de casada, em Outubro de 1348. D. Maria, a fermosíssima Maria, no dizer de Camões, casou com Afonso XI, rei de
Castela, e também foi infeliz. O marido preteria-a favorecendo uma favorita,
tratava-a mal e quando finalmente teve um filho, esse príncipe veio a ser Pedro
o Cruel de Castela, uma figura controversa
e tempestuosa que teve um reinado amargo e turbulento que acabou muito mal.
Ficou cedo viúva, e depois, desgostosa com os acontecimentos trágicos
que se sucediam à sua volta em Castela, regressou a Portugal, vindo a morrer
aos quarenta anos, em Évora.
O infante Pedro de Portugal
O infante Pedro, o
protagonista desta história de amor, é uma figura que se presta a muitas
interpretações, que vão de um amoroso que enlouqueceu de amor, encarnação de uma
paixão de lenda, a um monstro alucinado e sádico, vingativo e cruel, que viveu
obcecado pela prática da justiça, prática sempre exercida duma forma violenta e
feroz. À distância de séculos é difícil desenhar-lhe com rigor a personalidade.
As primeiras referências que temos deste rei, temperamental por natureza,
estão na Crónica do seu reinado, escrita largas décadas depois da sua
morte, por Fernão Lopes, Crónica que nos dá um retrato muito
curioso deste monarca medieval. Como foi escrita por ordem do seu neto, rei Duarte,
é muito provável que reflectisse a verdade oficial da época, baseada em tradições
orais e substanciada por documentação vária, particularmente aquela que terá
sido extraída da Chancelaria de Pedro
I».
In Luís de Camões, Linda Inês, O Episódio Inesiano n’ Os Lusíadas,
História de um Amor Fatídico, Introdução e Paráfrase de Jorge Tavares, Mel
Editores, 2009, ISBN 978-989-635-069-7.
Cortesia de Mel Editores/JDACT