sábado, 13 de julho de 2013

Duas Estratégias Divergentes na Busca das Índias. D. João II vs Colombo. José M. Garcia. «Um desses indícios que lhe mereceu maior atenção foi o da existência de canas de grandes proporções que foram arrastadas pelos ventos do poente (na verdade correntes marítimas) para a ilha de Porto Santo»

Toscanelli
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Colombo e as canas vindas do Ocidente
«A problematização da forma de atingir as Índias equacionada em 1474 pelo príncipe João não suscitou resultados nos tempos que se lhe seguiram por corresponderem a uma conjuntura adversa que impediu a realização de viagens de exploração, visto em 1475 ter sido necessário mobilizar em Portugal todos os meios navais, humanos e financeiros para as campanhas militares contra Castela resultantes da guerra que desde então Afonso V moveu para reivindicar a coroa deste reino, na sequência da morte de Henrique IV, ocorrida a 12 de Dezembro de 1474.
Só após a subida ao trono de João II em 1481 é que o processo dos Descobrimentos foi retomado, tendo sido então que o novo rei decidiu dar continuidade à opção henriquina de proceder a pesquisas junto da costa africana, deixando de lado a proposta sugerida em 1474 por Toscanelli. Foi neste enquadramento que antes de 31 de Agosto de 1482 João II deu ordens a Diogo Cão para navegar até onde pudesse ir ao longo do litoral africano no sentido de ver se conseguia encontrar as Índias.
Quando em l482 os descobrimentos portugueses recomeçaram Colombo continuaria a dedicar-se aos negócios do açúcar da Madeira, depois de se ter casado cerca de 1479 com Filipa Moniz, filha de Bartolomeu Perestrelo (falecido em 1458), que era filho de Fillipo Pallastrelli, um comerciante natural de Piacencia que no final do século XIV viera para Portugal. Por esse tempo Colombo ia aprendendo a arte da navegação atlântica que os portugueses então desenvolviam nas suas rotas oceânicas, tendo ido nomeadamente até à Guiné e à Mina nos primeiros anos da década de 80 do século XV. Foram os conhecimentos de navegação então adquiridos por Colombo que lhe permitiram realizar a viagem que em 1492 o iria imortalizar, mas a concepção que levou à realização de tal feito ter-lhe-á surgido quando nesse tempo teve acesso à carta e ao mapa de Toscanelli, de cuja tese passou o ser um ardente defensor.
Como Colombo não tivesse recursos financeiros para poder materializar a proposta de Toscanelli tentou obter junto de João II os meios que lhe permitissem fazer a viagem para encontrar terras do Oriente rumando a ocidente. O encontro entre estes dois homens em que esse pedido foi formulado constitui um dos episódios mais importantes da vida do famoso genovês no período da sua permanência em Portugal, o que nos leva a considerar quão importante é aprofundar este tema para tentar apurar as circunstâncias em que terá ocorrido.
Através dos testemunhos registados por Fernando Colombo e Las Casas é possível verificar que Colombo consolidou a convicção da vantagem de seguir a proposta de Toscanelli a partir da recolha de vários indícios práticos que lhe dariam consistência. Um desses indícios que lhe mereceu maior atenção foi o da existência de canas de grandes proporções que foram arrastadas pelos ventos do poente (na verdade correntes marítimas) para a ilha de Porto Santo, as quais tinham sido vistas pelos seu cunhado Pêro Correia, que disso o informou. Colombo mostrou-se convencido de que essas canas deviam vir de alguma terra asiática situada a poente, pois era dessa direcção que lhe diziam soprar o vento que trazia tais materiais, que não se encontravam na Europa nem na África. Estas canas existiam e eram do conhecimento de João II, que sobre elas falou com Colombo tendo-lhas mesmo mandado mostrar, pois sabia onde estavam guardadas e permitindo que ele as visse, quando sobre elas falaram. Estas indicações foram escritas pelos mencionados autores, pelo que de seguida as transcrevemos, pois constituem um dos temas centrais do episódio relativo à proposta do descobrimento apresentada por Colombo a João II:

Texto de Fernando Colombo

Texto de Bartolomeu Las Casas


Como acabámos de verificar por estas considerações sobre a apresentação do projecto de Colombo a João II e tal como o primeiro o deixou mencionado nos seus apontamentos, ou livros de memórias, como lhes chama Las Casas, as canas estão associadas ao teor da conversação havida, pois de acordo com Fernando Colombo».

In José Manuel Garcia, D. João II vs Colombo, Duas Estratégias divergentes na busca das Índias, Quidnovi, 2012, Vila do Conde, ISBN 978-989-554-912-2.

Cortesia de Quidnovi/JDACT