Neto de Maria Stuart. Decapitado pelo Parlamento inglês
«(…) Wentwort, era fatal! Não acreditava, como acontecia com o seu
senhor, na eficácia das assembleias, e todas as suas medidas eram promulgadas no
sentido de dar cada vez maior fortalecimento ao poder real. A revolta escocesa de 1638-40
marcou o início à Revolução inglesa,
afirmam autores reputados. Os escoceses, sedentos de aventuras, sem condições
de vida económica nas suas ilhas, começaram a expatriar-se, servindo na carreira
de armas de preferência e alistando-se, principalmente, nos exércitos protestantes
estrangeiros. Esse facto permitiu que, no momento do toque a reunir, eles
regressassem à pátria, aptos a guerrearem, com êxito, pela salvação da sua terra
natal, devido à prática que haviam adquirido.
No início da revolta, logo apareceu um capitão, Alexandre Leslie,
indivíduo experimentado e persistente, que organizou os seus patrícios, não lhe
sendo difícil bater Carlos I, cujo exército fora improvisado à última hora e se
compunha de elementos descontentes, soldados que não se batiam com vontade de
vencer e para os quais a causa do soberano era impopular. Além disso, o
dinheiro começou a escassear ao rei e, para o obter, só havia um recurso:
convocar o Parlamento a fim de votar os impostos destinados à guerra contra os
irrequietos vizinhos. Pouco tempo durou essa assembleia, o Curto Parlamento, como ficou sendo conhecido, mas foi o suficiente
para mudar as coisas quase radicalmente. Com efeito, não passou muito tempo sem
que o monarca não fosse forçado a convocá-lo de novo.
Estava-se em 1640. No novo
Parlamento sentaram-se deputados de assinalável experiência que tinham acompanhado
anteriormente os trabalhos parlamentares, e que não devotavam ao rei, pessoalmente,
a mais pequena consideração ou estima. Especulando, habilmente, com as paixões
populares contra a reacção realista, e apoiando-se seguramente na incipiente
força armada e na opinião pública, o novo Parlamento preocupou-se, primeiro do
que nada, em dar solidez e estabilidade à sua instituição, por intermédio de
adequadas medidas, bem recebidas por toda a população. As prerrogativas régias
viram-se notavelmente cerceadas e o conde de Strafford, apeado do cornando, foi
julgado, condenado e executado, para
exemplo dado pelo poder parlamentar na destruição do despotismo do monarca.
O rei foi, então, sujeito à suprema humilhação de ter de assinar o Acto da Pena de Morte para o seu
servidor, ele que se vangloriava de manter no poder os ministros mais
impopulares, em desafio à vontade da nação, desprezando totalmente aquilo a que
chamava as cabalas das camarilhas.
Infelizmente, até no próprio seio da Câmara dos Comuns se entranhava o vírus
religioso, dividindo-lhe os membros em diversas facções e enfraquecendo a sua
coesão, imprescindível perante o inimigo comum: o rei! Carlos I, apercebendo-se da situação, tenta tirar
partido dela e, irreflectidamente, pretende deter cinco cabecilhas
parlamentares, os quais, todavia, avisados a tempo, conseguem escapar-se,
refugiando-se em asilo seguro.
O Parlamento, secundado pela opinião pública,
levanta-se contra a autoridade do monarca, irritados os ânimos pelo acto real,
que, nem por se ter frustrado, deixava de ser gravemente atentatório dos direitos
e imunidades dos deputados. O Stuart, dispondo-se à luta, foge para o Norte, onde
reúne os seus partidários. A guerra civil estala pouco depois, em 1642, e prolongou-se, com alternativas,
até 1646. Do lado realista, havia os
Cavaleiros com a sua lealdade
desinteressada e uma valentia despreocupada, mas sem eficiência e quase sem
organização. Da banda contrária, estavam os famosos Cabeças Redondas, disciplinadamente disposto e zelando pela causa
pública». In Américo Faria, Dez Monarcas Infelizes, Livraria
Clássica Editora, colecção 10, Lisboa, s/d.
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