Ídolos Pagãos do Cristianismo
«(…) É fácil vermos hoje
que a História Universal de 1779 estava errada. Sabemos que
o mundo não foi criado em 4004 a.C..
Sabemos também que Adão não foi o primeiro homem
na Terra? Essas noções arcaicas já estão ultrapassadas; mas para as
pessoas no fim do século XVIII, essa impressionante história era o produto de
homens mais esclarecidos do que a maioria e, portanto, presumivelmente correcta.
Vale a pena, portanto, fazermos a nós mesmos a seguinte pergunta, neste
estágio: quantos factos aceitos pela ciência e pela história actualmente também
serão considerados ultrapassados à luz
de futuras descobertas?
Dogma não é
necessariamente verdade; é apenas uma interpretação fervorosamente divulgada da
verdade, com base nos factos disponíveis. Quando novos factos influentes são
apresentados, o dogma científico muda naturalmente, mas isso é raro de
acontecer com o dogma religioso. Neste livro, estamos particularmente
interessados nas atitudes e ensinamentos de uma Igreja Cristã que não presta atenção
a descobertas e revelações, e que ainda mantém boa parte do dogma incongruente
que remonta a tempos medievais. Como observou astutamente H. G. Wells no início
da década de 1900, a vida religiosa
das nações ocidentais subsiste numa casa
da história construída sobre areia.
A teoria da evolução de
Charles Darwin em The Descent of Man, em 1871 não causou nenhum dano pessoal a Adão, mas a ideia de que ele
seria o primeiro ser humano caiu por terra. Como todas as formas de vida
orgânica no planeta, os humanos evoluíram por mutação genética e selecção
natural, no decorrer de centenas de milhares de anos. O anúncio de tal facto
encheu de horror a sociedade, orientada pela religião. Alguns simplesmente se
recusavam a aceitar a nova doutrina, mas muitos caíram no desespero. Se Adão e
Eva não eram os pais primordiais, não havia Pecado
Original e, portanto, o próprio motivo do perdão não tinha fundamento!
A maioria entendera de
maneira completamente errada o conceito de Seleção Natural. As pessoas deduziam
que, se a sobrevivência era restrita aos mais fortes, então o sucesso devia
depender de superar o próximo! Estava nascendo uma nova geração, cética e
cruel. O nacionalismo egotista florescia como nunca antes na história, e as
divindades domésticas eram veneradas como, no passado, adoravam-se os deuses
pagãos. Símbolos de identidade nacional (como Britannia e Hibernia) se tomaram
novos ídolos do cristianismo. Dessa base insalubre se gerou uma doença
imperialista, e os países mais fortes e avançados reivindicaram o direito de
explorar as nações menos desenvolvidas. A nova era da construção de impérios
começava com uma luta indigna por domínio territorial. O Reich alemão foi
fundado em 1871, com a amálgama de
estados até então separados. Outros estados se juntaram para formar o Império
Austro-Húngaro. O Império Russo expandiu-se consideravelmente e, na década de 1890, o Império Britânico já ocupava
nada menos que um quinto de toda a massa territorial do globo.
Aqueles eram os dias dos
resolutos missionários cristãos, muitos dos quais enviados da Inglaterra da rainha
Vitória. Com a estrutura religiosa gravemente ferida em casa, a Igreja
procurava uma justificativa no exterior. Os missionários viviam particularmente
ocupados na Índia e na África, onde as pessoas já tinham as próprias crenças e
nunca tinham ouvido falar de Adão. Mais importante, porém, nunca tinham
ouvido falar de Charles Darwin! Na Inglaterra, um novo estrato
intermediário na sociedade emergira dos empregadores da Revolução Industrial.
Essa próspera classe média deixou a verdadeira aristocracia e a classe
governamental muito longe do alcance do povo, criando uma estrutura de classes,
um sistema de divisões no qual todos tinham seu lugar designado. Os chefes e
comandantes se refestelavam em empreendimentos arcádicos, enquanto os
mercadores oportunistas competiam por espaço em meio ao consumo exacerbado. Os
homens da classe trabalhadora aceitavam seu estado servil, com hinos de aliança,
um sonho de Esperança e Glória, e um retrato de sua sacerdotisa tribal, Britannia,
acima da lareira.
Os estudiosos da
história sabiam que não tardaria até que os impérios começassem a olhar uns aos
outros, e previam o dia em que os poderes concorrentes se digladiariam em feroz
oposição. O conflito começou quando a França se empenhou em recuperar a
Alsácia-Lorena da ocupação alemã, enquanto as duas guerreavam pelas
reservas de ferro e carvão do território. A Rússia e o Império Austro-Húngaro
se enfrentavam em luta pelo domínio dos Balcãs e havia disputas
resultantes de ambições colonialistas na África e em outros lugares. O pavio
foi aceso em Junho de 1914, quando um
nacionalista sérvio assassinou o arquiduque Fernando, herdeiro do trono
austríaco. Nesse ponto, a Europa explodiu numa grande guerra, fortemente
instigada pela Alemanha. As hostilidades foram dirigidas contra a Sérvia,
Rússia, França e Bélgica, e a contra-ofensiva era liderada pela Inglaterra. A luta
durou mais de quatro anos, chegando ao fim com uma revolta na Alemanha, quando
o imperador Guilherme II fugiu do país.
Diante de todos os
avanços tecnológicos de uma era industrializada, a história tinha feito pouco progresso
em termos sociais. As conquistas da engenharia levaram a uma habilidade marcial
sem precedentes, enquanto o cristianismo se tornara tão fragmentado que já não
mais se deixava reconhecer. O orgulho da Inglaterra permanecia intacto, mas o
Reich alemão não se conformava em aceitar passivamente suas perdas. Seu
despótico líder, Adolf Hitler, anexou a Áustria em 1937 e invadiu a Polónia dois anos depois. A segunda grande guerra,
verdadeiramente uma Guerra Mundial,
começava: a mais feroz disputa
territorial até hoje. Durou seis anos e foi centrada nas crenças vitais
da própria religião: os direitos de todos
num ambiente civilizado».
In Laurence Gardner, A Linhagem
do Santo Graal, A verdadeira história de Maria Madalena e Jesus Cristo, Madras
Editora, 2004.
Cortesia de Madras/JDACT