terça-feira, 1 de outubro de 2013

Biblioteca do Pensamento Político. António Sardinha e o Iberismo. Acusação Contestada. «E sob este paralelismo, análogo ao da Reconquista, muito longe da utopia ultrajante da União Ibérica e de outras maquinações maçónicas apostolizadas…»

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Depoimentos. O pretenso “iberismo” da António Sardinha
«(…) Parece desconhecer FN que uma das primeiras manifestações do Integralismo, foi a série de conferências pronunciadas na Liga Naval em 1915, em que António Sardinha, Hipólito Raposo, Xavier Cordeiro, Vasco de Carvalho, Ruy Ulrich, Freitas Branco, Luís de Almeida Braga e também o signatário tentaram a refutação sistemática da ideia da união ibérica nas suas várias modalidades, combatendo-a no fundamental aspecto, ao formular as razões de ser da nossa irredutível personalidade histórica. Esta série de conferências foi interrompida pela revolução do 15 de Maio, como refere o prefácio do volume em que mais tarde foram publicadas: um bando de patriotas armados dando vivas à República e à Constituição, invadiram as salas da Liga Naval, quebrando mobília e apropriando-se de outros objectos e de dinheiro, no delírio do seu triunfo. As conferências foram suspensas porque a República fora pela segunda vez proclamada e a Constituição estava de novo em vigor.
Apesar da nossa pouca idade de então, passado todo este tempo, pouco haveria que corrigir hoje no que então afirmámos. FN dá a impressão de que desconhece esse livro, que é o documento de que ao Integralismo não faltava a força de uma doutrina directamente oposta às tendências do iberismo, nunca podendo ser suspeito de com ele poder transigir. O meu estudo, que versava os aspectos económicos da questão, concluía assim: uma vez fortes e regenerados e tornados uma raça forte com um governo forte não implicam as glórias, que o futuro nos promete, a hostilidade do vizinho. Dotado um e outro país de saúde política e de governos competentes, tudo aconselha uma larga aliança baseada nos tratados de comércio e nos arranjos militares defensivos. Constituir-se-ia assim um bloco de invencível valor internacional e [talvez] pudesse ainda fazer alguma coisa de belo para a cristandade a camaradagem de duas nações que já entre si repartiram amigavelmente o mundo para a obra nobilíssima da colonização.
Antes da revolução e ainda no estertor da monarquia constitucional de Espanha, os estudantes integralistas portugueses dirigiram um apelo aos estudantes espanhóis, que começava por afirmar: a sagrada fronteira que politicamente nos separa e espiritualmente nos une, proíbe-nos uma organização política comum, mas impõe-nos uma estreita solidariedade espiritual. Preconizavam uma orientação que tendesse ao internacionalismo da cultura, mas contrário ao internacionalismo político. … desenvolvamos paralelamente até à plenitude o nacionalismo espanhol e o nacionalismo português… E sob este paralelismo, análogo ao da Reconquista, muito longe da utopia ultrajante da União Ibérica e de outras maquinações maçónicas apostolizadas pelos piores espanhóis como pelos piores portugueses, saibamos criar uma solidariedade espiritual...» In José Pequito Rebelo, O Debate, nº 1085, de 8-1-1972.

O Integralismo e a questão ibérica
Buscou também sempre o Integralismo, promover o aumento da força nacional, mesmo no adverso regime. Defendeu sempre esses dois polos da nossa força e sobrevivência: a Milícia e o Ultramar. No nosso folheto A ideia de Portugal forte constam as inúmeras advertências feitas ao poder em nome daqueles portugueses que se têm manifestado contrários ao abandono da defesa nacional. Já em Março de 1936 prevíamos a ameaça soviética pelo lado de Espanha, pedindo a aplicação imediata de recursos à nossa defesa e à nossa aviação, além daquela parte também sagrada que devíamos ter dedicado à ocupação demográfica do nosso Ultramar, outra condição importante de potência militar.
Um pouco mais tarde, em Maio de 1936, dirigia ao subsecretário de Estado da Guerra, uma exposição em que se lia: parto da hipótese de que Portugal, se não armar rapidamente, está em sério risco de ser atacado por uma Espanha tornada bolchevista; para que o seu nome de nação livre e civilizada desapareça dentro da União Ibérica Soviética. De sucessivas representações aos altos poderes, posso agora extrair as seguintes frases, que exprimiam decerto também o pensamento integralista: ... Ofereço mais esta reflexão: como os dois contendores (nacionalistas e vermelhos) aumentam febrilmente os seus armamentos, especialmente aviões, no fim do conflito o vencedor disporá de uma massa considerável que é a sua, somada ao do vencido… Para isso, para salvaguardarmos o equilíbrio das forças, parece que nós devíamos adquirir recursos de guerra iguais aos que os dois contendores adquirem e com a mesma velocidade. Tirar habilidosa e heroicamente da própria guerra de Espanha aquele acréscimo de força que valha como proclamação virtual da nossa independência e nos defenda militar e diplomaticamente no choque iminente dos imperialismos». José Pequito Rebelo, in António Sardinha e o Iberismo, Acusação Contestada, Biblioteca do Pensamento Político, ‘O Debate’ nº 1085/6, 1972, QP, Oficinas de S. José, 1974.

Cortesia de QP/JDACT