«Tentai apreender a vossa consciência e sondai-a.
Vereis que está vazia, só encontrareis nela o futuro. Nem sequer falo dos
vossos projectos e expectativas: mas o próprio gesto que surpreendeis de
passagem só tem sentido para vós se projectardes a sua realização final para
fora dele, fora de vós, no ainda-não. Mesmo esta taça cujo fundo não se vê -
que se poderia ver, que está no fim de um movimento que ainda não se fez -,
esta folha branca cujo reverso está escondido (mas poderia virar-se a folha) e
todos os objectos estáveis e sólidos que nos rodeiam ostentam as suas
qualidades mais imediatas, mais densas, no futuro.
O homem não é de modo nenhum a soma do que tem, mas a totalidade do que não tem ainda, do que poderia ter. E, se nos banhamos assim no futuro, não ficará atenuada a brutalidade informe do presente? O acontecimento não nos assalta como um ladrão, visto que é, por natureza, um Tendo-sido-Futuro. E, para explicar o próprio passado, não será a primeira tarefa do historiador procurar o futuro?»
O homem não é de modo nenhum a soma do que tem, mas a totalidade do que não tem ainda, do que poderia ter. E, se nos banhamos assim no futuro, não ficará atenuada a brutalidade informe do presente? O acontecimento não nos assalta como um ladrão, visto que é, por natureza, um Tendo-sido-Futuro. E, para explicar o próprio passado, não será a primeira tarefa do historiador procurar o futuro?»