sábado, 2 de novembro de 2013

O Jornalismo em Evolução. Adriana Mello Guimarães. Nuno R. Fernandes. «… a antiga máxima “a televisão mostra, a rádio conta e o jornal explica” atingiu o seu ápice. No entanto, uma mudança no nosso panorama mediático veio a alterar a forma de fazer jornalismo»

Cortesia de wikipedia

A ascensão de uma profissão
«(…) Nesse período destacamos o surgimento do Diário de Notícias (1/1/1865) um jornal barato, acessível que inovou o panorama jornalístico oitocentista. Justamente nessa fase industrial, os jornais passaram a dispor do auxílio do telégrafo e, então, surgiram as agências noticiosas: O progresso das técnicas e o aparecimento de uma imprensa barata, diversificando o seu conteúdo para deixar mais espaço à relação de informações, em vez de se dedicar apenas à expressão de opiniões, permitiram, causa e consequência ao mesmo tempo, a criação das agências. Desta forma, o sistema de comunicações melhorou, tornou-se mais rápida a circulação de notícias e ampliou-se o hábito de ler jornais. Assim, o jornal lançado romanticamente pelo indivíduo isolado que nele fazia quase tudo deixava, passo a passo, de ter condições para competir e subsistir. As redacções alargaram-se. Será útil relembrar, ainda, as influências que o jornalismo luso recebeu: O jornalismo português nasceu e evoluiu sintonizado com o que se fazia na Europa, em particular em França, país que até ao século XIX ditou «as modas» em Portugal. No entanto, as guerras napoleónicas (em que Portugal alinhou pelos britânicos) e, posteriormente, as lutas liberais (…) e o liberalismo permitiram que a imprensa portuguesa se abrisse ao modelo britânico de jornalismo, assente no princípio da liberdade de imprensa. Enfim, não há dúvida de que o século XIX foi um período de expansão da imprensa portuguesa, um legado rico, marcado por um carácter idealista e doutrinário que serviu para o estabelecimento das coordenadas ideológicas de toda uma memória colectiva.

A legitimação do grupo profissional
Passo a passo o jornal torna-se num produto e a informação transforma-se de opinativa para cada vez mais objectiva. Já em pleno século XX, em 1938, Andrade Saraiva, ao falar sobre a missão da imprensa afirma: Em lugar do apostolado, do idealismo e da doutrina, surgiu a empresa. A caixa substituiu a tribuna. (…) A personalidade do director apagou-se e subalternizou-se; em vez de um tributo ou de um apóstolo, tornou-se antes um chefe de escritório sempre atento às condições e desejos do conselho de administração. Ou seja, o ofício de jornalista foi aos poucos transformando-se numa profissão e os jornalistas, enquanto grupo profissional começaram à procura de um espaço autónomo de legitimação. De facto, apesar de ser considerada (durante muitos anos) uma actividade socialmente desvalorizada e intelectualmente desprestigiada, passa a ser socialmente reconhecida e juridicamente legitimada. O jornal torna-se um bem de consumo. Emblemáticos destas alterações são os novos perfis profissionais dos jornalistas: o repórter passa a ser valorizado e surge a figura do correspondente de guerra.
Além da informação geral, aparece a chamada imprensa especializada e nas redacções ocorre a expansão do número de jornalistas. Emerge a fixação de uma hierarquia profissional e a divisão do trabalho no seio da redacção por secções, bem como a fixação de um vocabulário próprio e a definição de competências técnicas associadas à profissão, a diferenciação de estilos, a criação de embriões do que viria a ser o Sindicato dos Jornalistas, e a mobilidade dos jornalistas entre os diversos órgãos de comunicação social. O jornalismo português ao longo do século XX sofreu diversas mutações estruturais e legislativas e vivenciou um longo contexto de privação de liberdade que condicionou a autonomização e profissionalização dos jornalistas. Assistiu-se a massificação do uso da rádio (anos 40-50) que mudou a forma de fazer jornalismo, assim como a implantação da televisão (1957). Nesse tempo a antiga máxima a televisão mostra, a rádio conta e o jornal explica atingiu o seu ápice. No entanto, uma mudança no nosso panorama mediático veio a alterar a forma de fazer jornalismo. Os jornais deixaram de explicar e passaram a contar e com um dia de atraso. As estratégias dos proprietários dos media levaram a que os nossos jornais perdessem a sua principal característica, o aprofundamento das peças jornalísticas, para passarem a ter a mesma característica dos outros meios. Será a morte anunciada do jornalismo impresso? Fica a questão que não cabe aqui tentar responder». In Adriana Mello Guimarães e Nuno R. Fernandes, O jornalismo em Evolução, Trabalho apresentado no III Seminário de I&DT, organizado pelo Centro Interdisciplinar de Investigação e Inovação do Instituto Politécnico de Portalegre, Dezembro, 2012.

Cortesia do IPP/JDACT