Amo o que Vejo
Amo o que vejo porque deixarei
qualquer dia de o ver.
Amo-o também porque é.
No plácido intervalo em que me sinto,
do amar, mais que ser,
amo o haver tudo e a mim.
Melhor me não dariam, se voltassem,
os primitivos deuses,
que também, nada sabem.
qualquer dia de o ver.
Amo-o também porque é.
No plácido intervalo em que me sinto,
do amar, mais que ser,
amo o haver tudo e a mim.
Melhor me não dariam, se voltassem,
os primitivos deuses,
que também, nada sabem.
Da Verdade não Quero Mais que a Vida
Sob a leve tutela
de deuses descuidosos,
quero gastar as concedidas horas
desta fadada vida.
Nada podendo contra
o ser que me fizeram,
desejo ao menos que me haja o Fado
dado a paz por destino.
Da verdade não quero
mais que a vida; que os deuses
dão vida e não verdade, nem talvez
saibam qual a verdade.
de deuses descuidosos,
quero gastar as concedidas horas
desta fadada vida.
Nada podendo contra
o ser que me fizeram,
desejo ao menos que me haja o Fado
dado a paz por destino.
Da verdade não quero
mais que a vida; que os deuses
dão vida e não verdade, nem talvez
saibam qual a verdade.
Não Sejamos Inteiros numa Fé talvez sem
Causa
Meu gesto que destrói
a mole das formigas,
tomá-lo-ão elas por de um ser divino;
mas eu não sou divino para mim.
Assim talvez os deuses
para si o não sejam,
e só de serem do que nós maiores
tirem o serem deuses para nós.
Seja qual for o certo,
mesmo para com esses
que cremos serem deuses, não sejamos
inteiros numa fé talvez sem causa.
Poemas de Ricardo Reis, in "Odes" (Heterónimo de Fernando Pessoa)
a mole das formigas,
tomá-lo-ão elas por de um ser divino;
mas eu não sou divino para mim.
Assim talvez os deuses
para si o não sejam,
e só de serem do que nós maiores
tirem o serem deuses para nós.
Seja qual for o certo,
mesmo para com esses
que cremos serem deuses, não sejamos
inteiros numa fé talvez sem causa.
Poemas de Ricardo Reis, in "Odes" (Heterónimo de Fernando Pessoa)