«A conquista de Ceuta
por El-Rei João I em 24 de Agosto de 1415,
foi, como refere um historiador alemão, o primeiro elo da grande cadeia que os marinheiros
portugueses estenderam à roda da África até encontrar o paraíso da Índia. De facto
aquele ousado empreendimento não tardou em produzir outros de maior alcance. No
ano de 1480, reinando El-Rei Afonso
V, Pero da Covilhã é o primeiro português que chega à Abyssínia por terra, seguindo
depois pelo mar Roxo, à costa oriental da África até Sofala. Afonso de Albuquerque
lança, em 1507, os alicerces há fortaleza de Ormuz (no mar Pérsico), cuja fortaleza
Portugal conservara até o ano de 1622,
quando Xá Abas, rei da Pérsia, a retomara com auxílio dos ingleses. Existiam ali
a esse tempo, cinco igrejas e um convento de padres Agostinhos.
A prodigiosa actividade de
El-Rei Manuel I levou os portugueses ao descobrimento desde o Indo ao Ganges,
de toda a Ethiopia e Pérsia, com todos os mares, portos, enseadas e ilhas, a toda
a China e à de Malaca. Foi aquele monarca quem mandou à Abyssínia, na qualidade
de seu embaixador, Francisco Álvares, o qual passados alguns anos, em 1558, publicou a Historia descriptiva da Ethiopia. Damião de Goes e Faria Souza,
julgam a obra defeituosa; todavia parece fora de dúvida ser o primeiro escrito detalhado
acerca da Abyssínia.
Miguel Castanhoso publicou
em 1541 a sua interessante história acerca
da expedição dos portugueses sob o mando do valoroso Afonso de Albuquerque.
Esta história, apesar de contar 343 anos depois da sua publicação, o governo italiano
julgou acertado (no interesse da sua recente expedição à Abyssínia) mandar traduzi-la
sob o título: Storia della spedizione Portughese
in Abyssinia nel seculo XVI, narrata da Michelo de Castanhoso. Os primitivos
exploradores portugueses eram invariavelmente seguidos de fervorosos missionários
das ordens religiosas que n'essas épocas remotas de preferência se empregavam na
propagação da fé, as de Santo Agostinho, S. Francisco e S. Domingos. Foram os missionários
d'essas ordens os primeiros que levaram a religião cristã a África, Ásia e América.
Apenas organizada a Companhia de Jesus, em 1540,
os padres daquela ordem, especialmente os portugueses, prestaram importantes serviços
à fé, à civilização, a agricultura e ao comércio, em toda a vastidão do território
aonde o pendão das quinas tinha alcançado. A eles é igualmente devida a descoberta
da origem do Nilo. Os padres portugueses Fedro Paes e Francisco Lobo levaram
a efeito essa arrojada empresa.
Segue-se a narrativa, publicada
em 1665, do Patriarca João Bermudez,
o qual viera a Portugal na qualidade de embaixador do rei da Abyssínia junto de
El-Rei Sebastião. O Patriarca descreve com especialidade os combates e as vitórias
de Christovão da Gama na Abyssínia. Os padres da Companhia, Patriarca Afonso Mendes,
Melchior Silva, Francisco Lobo e Nicolau Godinho, escreveram igualmente sobre a
Abyssínia. Este padre publicou em Roma, (em latim), três obras importantes;
uma refutando o que sobre a Abyssínia escrevera o padre Luís Urreta, espanhol,
e frade dominicano. A segunda acerca da vida do padre Gonçalves Silveira,
martirizado na África oriental, em 15 de Março de 1561; e a terceira, De Abassiorum Rebus de que Aithiopiae Patriarchus
Joanne Nonio Barreto & Andrea, Oviedo1615.
Que os escritos dos missionários portugueses eram tidos em grande apreço
nos séculos XVI e XVII, temos muitas provas; entre outras uma carta geográfica (da
qual possuímos um exemplar), publicada em Veneza no tempo da Republica, intitulada:
Abyssinia, dove sono le Fonti del
Nilo, discrita secondo le relationi de P. P. Mendes, Almeida, Paes, Lobo e Lodulfo.
A história da Abyssínia do padre Balthazar Telles, publicada em 1660, merece particular atenção: Historia general da Ethiopia a alta ou Preste
João, e do que n’ella observaram os padres da Companhia de Jesus, composta na mesma
Ethiopia pelo padre Manoel d'Almeida, natural de Vizeu, Provincial e Visitador que
foi na India, abreviada com novas relações e methodo pelo padre Balthazar Telles,
natural de Lisboa, Provincial da Provincia Lusitana». In Visconde
de Soveral, Memória acerca dos portugueses na Abyssínia, Porto, Tipografia do
Comércio do Porto, 1894.