terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Namorados. 1918. Virgínia Victorino. «Qualquer pessoa, seja lá quem for, se a uma outra pessoa se dedica, só com essa ternura será rica e qualquer outra julgará pior... Há dois amores? Qual é o verdadeiro? Se há segundo, que é feito do primeiro? Esta contradição quem foi que fez?»

Cortesia de wikipedia

Namorados
Tristeza
Nos dias de tristeza, quando alguém
nos pergunta, baixinho, o que é que temos,
às vezes, nem sequer nós respondemos:
faz-nos mal a pergunta, em vez de bem.

Nos dias dolorosos e supremos,
sabe-se lá donde a tristeza vem?!...
Calamo-nos. Pedimos que ninguém
pergunte pelo mal de que sofremos...

Mas, quem é livre de contradições?!
Quem pode ler em nossos corações?!...
Ó mistério, que em toda parte existes...

Pois, haverá desgosto mais profundo
do que este de não se ter alguém no mundo
que nos pergunte por que estamos tristes?!

Renúncia
Fui nova, mas fui triste... Só eu sei
como passou por mim a mocidade...
Cantar era o dever da minha idade,
devia ter cantado e não cantei...

Fui bela... Fui amada e desprezei...
Não quis beber o filtro da ansiedade.
Amar era o destino, a claridade...
Devia ter amado e não amei...

Ai de mim!... Nem saudades, nem desejos...
Nem cinzas mortas... Nem calor de beijos...
Eu nada soube, eu nada quis prender...

E o que me resta?! Uma amargura infinda...
Ver que é, para morrer, tão cedo ainda...
E que é tão tarde já, para viver!...

Sonetos de Virgínia Victorino, in ‘Namorados

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