sábado, 18 de janeiro de 2014

Teoria do Conhecimento. Literatura. Vida e Morte. «Todos sofremos. O mesmo ferro oculto nos rasga e nos estilhaça a carne exposta o mesmo sal nos queima os olhos vivos. Em todos dorme a humanidade que nos foi imposta. Onde nos encontramos, divergimos. É por sermos iguais que nos esquecemos que foi do mesmo sangue, que foi do mesmo ventre que surgimos»

jdact

Desarmar e Esgotar o Sofrimento

«A literatura é uma defesa contra as ofensas da vida. A primeira diz à segunda: Não me levas à certa; sei como te comportas, sigo-te e prevejo-te, gozo até ao ver-te agir, e roubo-te o segredo ao recriar-te em hábeis construções que travam o teu fluxo. À parte este jogo, a outra defesa contra as coisas é o silêncio em que nos recolhemos antes de dar o salto. Mas é preciso que sejamos nós a escolhê-lo, e não deixar que no-lo imponham. Nem mesmo a morte. Escolhermos um mal é a única defesa contra esse mal. Isto significa aceitar o sofrimento. Não resignação, mas força. Digerir o mal de uma só vez. Têm vantagem os que, por índole, sabem sofrer de um modo impetuoso e total: assim se desarma o sofrimento e o transformamos em criação, escolha, resignação. Justificação do suicídio.
Aqui não há lugar para a Caridade. Ou não será talvez a verdadeira caridade esta projecção violenta de si próprio?


O Respeito Humano é Mais Forte do que a Consciência

Todos sabemos ter pensamentos maus, mas muito raramente praticar acções más. Todos sabemos praticar boas acções, mas poucos são capazes de bons pensamentos.
O respeito humano é mais forte do que a consciência. Quem não prefere ceder no seu íntimo à mais abjecta tentação, consentir, do que praticar, mesmo inocentemente, uma acção abjecta, no caso, bem entendido, de ser impossível desculpar-se?

A Lamentação é Completamente Inútil

Não há dúvida de que é inútil e prejudicial lamentarmo-nos perante o mundo. Resta saber se não é igualmente inútil e prejudicial lamentarmo-nos perante nós próprios. Evidentemente. De facto, ninguém se lamentará perante si próprio, a fim de se incitar à piedade, o que nada significaria, dado que a piedade é, por definição, o voluptuso encontro de dois espíritos. Para quê, então? Não para obter favores, porque o único favor que um espírito pode fazer a si próprio é conceder-se indulgência, e toda a gente percebe quanto é prejudicial que a vontade seja indulgente para com a sua própria e lamentável fraqueza.
Resta a hipótese de o fazermos para extrair verdades do nosso coração amolecido pela ternura. Mas a experiência ensina que as verdades surgem apenas em virtude de uma pacata e severa busca, que surpreende a consciência numa atitude inesperada e a, como de um filme que parasse de repente, estupefacta, mas não emocionada.
Basta, portant
.

In Cesare Pavese,O Ofício de Viver’


JDACT