Educada para reinar. Uma
infância coimbrã
O destino da esposa e das filhas do conde de
Urgell
«(…) Quanto à infanta Isabel, que suportara o cerco
de Balaguer grávida, foi enviada juntamente com as suas filhas para o mosteiro
de Sixena, onde tradicionalmente eram educadas as meninas da Casa Real. Aí, deu
à luz Joana, nascida em 1413. Cerca
de um ano mais tarde, Ferran I descobriu que a infanta se correspondia com a
duquesa de Berry, procurando obter dela que se ocupasse da manutenção e
educação das suas filhas mais velhas, Isabel e Elionor uma das quais os
partidários de Jaume de Urgell queriam casar com o herdeiro do duque de
Bourbon. Assim, a 14 de Abril de 1415,
o soberano mandou o procurador-geral do ducado de Urgell, Ramon d'Empúries,
buscar as duas donzelas ao mosteiro e levá-las para Valencia. Desta viagem
existe um relato feito pelo referido oficial; por ele, sabemos que viajaram
acompanhadas por uma dona, duas donzelas e uma servente, e que foram
transportadas em andes por terra, seguindo depois de barco sobre o rio Ebro. Em
Valencia, Isabel e Elionor permaneceram algumas semanas em casa de Jaume Sensuri,
capelão de sua mãe. A 24 ou 25 de Julho, acompanhadas por Sibil-la e Francina
de Fortià, provavelmente duas parentes de sua avó que haviam seguido sua mãe
quando esta se casara, iniciaram uma nova e mais longa viagem em direcção a
Castela, onde ficaram à guarda de Leonor de Alburquerque, viúva de Ferran I.
A pequena Joana ficou com a mãe no mosteiro de Sixena até que Alfons V decidiu
restituir à infanta o respectivo dote, confiscado pelo seu falecido pai. Em Outubro
de 1417, Isabel de Aragão recebeu do soberano a vila de Alcolea de Cinca, valorizada
em 60 000 florins, mais um certo montante em rendas de Balaguer até perfazer o
que faltava para atingir as 50 000 libras barcelonesas. A infanta instalou-se
então nessa vila com a filha mais nova, onde viveu até à sua morte, ocorrida a7
de Novembro de 1424. Curiosamente,
em Março desse ano havia sido dado um tutor às três filhas do conde de Urgell,
um parente seu que era arcediago da Igreja de Santa Maria del Mar de Barcelona
e mais tarde veio a ser cónego de Lleida, Berenguer Barutell. Talvez a infanta
Isabel já estivesse então doente e fosse possível antever-lhe um fim próximo. O
certo é que foi esse tutor quem serviu de procurador a Isabel quando se efectuaram
as negociações que levaram ao seu casamento com o infante Pedro de Portugal, em
1428. Nessa altura, a referida
donzela estava a residir em Alcolea de Cinca. É, portanto, de presumir que,
dois anos antes, quando Leonor de Alburquerque levou sua filha Leonor para
Barcelona com o intuito de preparar o respectivo casamento com o herdeiro do
trono português, ter-se-á igualmente feito acompanhar por Isabel de Urgell e talvez
também pela irmã desta, Elionor.
Depois da partida de Isabel para Portugal, Elionor de Urgell ficou a
viver com Barutell até ao assassinato deste, em 1432. Nessa data, a esposa de Alfons V a rainha Maria, que já tinha
a seu cargo a irmã mais nova da fratria, Joana de Urgell, desde a morte da mãe,
fez ver a Elionor a conveniência de regressar ao mosteiro de Sixena ou ingressar
no convento das menoretes de Lleida. Como a donzela não se mostrasse muito
entusiasmada com tal solução, foi consultado o conde de Urgell, que lhe ordenou
acatasse a vontade real. Não se sabe, porém, em que cenóbio se recolheu Elionor
até à data de seu casamento. Como Alfons V não teve filhos nem filhas de sua
esposa, usou as suas jovens primas de Urgell para estabelecer alianças, como
mais tarde usará as suas sobrinhas, infantas de Portugal. Inicialmente, pensou
em casar Elionor e Joana com o rei Janus de Chipre e o respectivo filho, mas a
morte daquele soberano, em Junho de 1432,
pôs fim às negociações. Em Maio de 1438,
deu Elionor em casamento a Raimondo Orsini, conde de Nola, como compensação por
ele ter abandonado o partido do rei de Nápoles e ter-se juntado ao seu, o que
veio a facilitar a conquista desse reino.
Segundo Ryder, a jovem resistiu à união e teve praticamente de ser
arrastada à força para a galera que a levou para Itália. O rei Duarte, o infante
Pedro e até o rei de Castela insurgiram-se contra a violência que era obrigar a
filha de uma infanta de Aragão a unir-se a um homem de nível inferior ao seu,
mas nada demoveu o monarca aragonês. Veremos que Pedro até ao papa recorreu para tentar evitar à sua cunhada tal
infortúnio. Quanto a Joana, Alfons V casou-a com o conde Jean III de Foix, de
quem ela ficou viúva ao fim de pouco tempo. Obrigou-a, então, a regressar a
Aragão para a casar com Joan Ramon Folch, conde de Cardona e Prades». In
Ana Maria S. A. Rodrigues, As Tristes Rainhas, Rainhas de Portugal, coordenação
de Ana Maria S. A. Rodrigues, Isabel Guimarães Sá, Manuela Santos Silva,
Círculo de Leitores, 2012, ISBN 978-972-42-4708-3.
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