sábado, 22 de março de 2014

A Rainha Restauradora. Luísa de Gusmão. Monique Vallance. «Talvez o estudo mais abrangente acerca da ‘Restauração’ seja a “História de Portugal restaurado” do conde da Ericeira. Esta obra, em quatro volumes, é um trabalho que começa com a revolução contra os Habsburgos, em 1640, e termina em 1668, com o reinado de Pedro II»

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D. Luísa e o problema das fontes
«(…) Outro trabalho cuja leitura é importante para a compreensão deste período é a biografia do marquês de Sande por Theresa Castello Branco. Embora essa obra não se debruce exclusivamente sobre D. Luísa, o marquês de Sande foi um dos diplomatas mais importantes ao serviço desta rainha, tendo negociado a aliança matrimonial entre a infanta D. Catarina e Carlos II de Inglaterra. Essa aliança é vital para a compreensão da época. D. Luísa foi criticada devido às grandes concessões que fez, a fim de obter a aliança anglo-portuguesa. No entanto, as vantagens para Portugal ultrapassaram largamente quaisquer prejuízos. O aspecto mais importante dessa obra é a extensa investigação efectuada pela autora durante a elaboração dessa biografia. Inclui muitos documentos dos arquivos dos condes de Ponte, os descendentes do marquês de Sande, arquivo que não é de fácil acesso para o público. A autora efectuou também uma vasta pesquisa nos arquivos dos duques de Bragança em Vila Viçosa e incluiu muitas das cartas cifradas trocadas através do canal da Mancha entre o marquês e D. Luísa. Pesquisou ainda o trabalho de outros diplomatas e conselheiros, a fim de colocar o período estudado num contexto histórico alargado. Para um debate abrangente acerca da diplomacia durante o período da Restauração é importante ler os livros de Edgar Prestage. Escritos sobretudo na década de 1920, o seu trabalho debruçou-se principalmente sobre as relações diplomáticas portuguesas ao longo do século XVII. A obra mais importante para este tema em particular é The Diplomatic Relations of Portugal with France, England, and Holland from 1640 to 1668, publicada em 1925. Está muito bem feita: o autor estudou exaustivamente a diplomacia entre Portugal e estes três países no período referido, e teve o cuidado de enumerar os detalhes das missões de ambos os lados do campo diplomático.
Estes trabalhos são importantes para compreender a relação entre a Coroa e as cortes, tanto antes como depois da Restauração. Esclarecem questões relativas ao Estado alegadamente absolutista do monarca João e demonstram o poder que os nobres insistiam em manter relativamente à autoridade do monarca. Também ajudam a compreender o clima em que D. Luísa deu início à sua regência e o que os nobres esperavam dela. O período da guerra foi objecto de alguns estudos modernos, nomeadamente a obra de Rafael Valladares, A independência de Portugal: Guerra e Restauração, 1640-1650 (2006), e o artigo de Lorraine White, Strategic Geography and the Spanish Habsburg Monarchy's Failure to Recover Portugal, 1640-1668 (2007). Estes dois trabalhos apresentam um exame especializado da Guerra da Restauração e dos êxitos e fracassos de ambos os lados. Em particular, o artigo de Lorraine White concentra-se nos obstáculos geográficos que Portugal apresentava aos Espanhóis e fornece uma vista geral das formas como estes tentaram (sem êxito) superar esses obstáculos. Talvez o estudo mais abrangente acerca do período da Restauração seja a História de Portugal restaurado do conde da Ericeira. Esta obra, em quatro volumes, é um trabalho coetâneo, que começa com a revolução contra os Habsburgos, em 1640, e termina em 1668, com o reinado de Pedro II. Foi originalmente escrita em dois volumes, o primeiro publicado em 1679 e o segundo, postumamente, em 1698. (A obra foi posteriormente dividida em quatro volumes e reeditada em 1715 e, de novo, em 1945). Tal magnitude não foi repetida desde então, pelo que esta obra continua a ser o trabalho de referência nesta matéria. É a obra mais citada pelos historiadores quando se referem a qualquer dos anos do período da Restauração. Trata-se de um relato extremamente detalhado, que se tem revelado de extremo valor para os historiadores. Até prova em contrário, o 3º conde da Ericeira é a maior autoridade no que se refere aos trinta anos após a restauração da monarquia e assim continuará, até que possa realizar-se mais investigação acerca desta época negligenciada. Outras histórias da Restauração, escritas no século XVII, incluem La conjuration du Portugal, do abade Vertot (publicada em língua francesa em 1689 e traduzida para inglês em 1724) e Restauração de Portugal prodigiosa, de Gregório de Almeida (1642)». In Monique Vallance, A Rainha Restauradora, Luísa de Gusmão, Círculo de Leitores, 2012, ISBN 978-972-42-4713-7.

Cortesia de CLeitores/JDACT