«(…) Posteriormente, já no fim da sua vida, livros como Versos
Pobres (1949) ou Últimos Versos (1953), que são de
extraordinária importância dentro da nossa modernidade e até do nosso
modernismo poético, não tiveram também contemporâneos à sua altura e apareceram
envolvidos por um silêncio que só alguns elementos ligados à geração da revista
Árvore (1951-1953), como
Sebastião da Gama ou Cesariny Vasconcelos, pretenderam romper, assumindo-se por
esses anos como os contemporâneos e admiradores incondicionais do poeta do
Marão. De todas as poesias que constituem reconhecidamente, em nosso entender,
as do tempo de Pascoaes, e que vão
como vimos de Afonso Lopes Vieira a Fernando Pessoa (Na Floresta do Alheamento, foi publicado em 1913 na revista A Águia),
as únicas conhecidas são as de Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro. Todas as
restantes, incluindo a de Afonso Duarte, são hoje ostensivamente ignoradas e é
geralmente sem qualquer conhecimento dos textos, e por isso com ignorância, que
se formulam as inadequadas e injustíssimas vulgarizações que correm sobre a
poesia do tempo de Pascoaes, em particular
sobre as poesias de Corrêa d’Oliveira, de João Lúcio ou de Mário Beirão, três
das mais importantes poesias portuguesas do século XX. Traçou-se pura e simplesmente,
do alto a baixo, um traço sumário, como disse Cesariny, sobre a poesia desses
poetas, ignorando que o que assim se fazia era riscar, quando se tomava esse risco
de modo definitivo, uma das partes mais significativas e importantes da nossa
poesia de sempre, contribuindo ainda mais para o desconhecimento da poesia de Pascoaes.
É difícil sabermos quais as razões que levaram e continuam a levar a
este desconhecimento, mas desde já nos recusamos a aceitar que haja ou tenha
havido qualquer má-fê manifesta contra o poeta e a sua poesia, tanto mais que,
a ter em conta as palavras certeiras de Sant’Anna Dionísio, nunca José Régio, Gaspar
Simões ou Casais Monteiro, três dos principais directores da revista Presença, negaram vida e perenidade à
poesia de Pascoaes. José Régio, por
exemplo, num artigo que escreveu chamado Pascoaes e Pessoa, e em que
discute opiniões formuladas por Otto Maria Carpeaux sobre a poesia de Pascoaes, revelou bem o respeito que a
poesia do poeta de Marânus lhe merecia, quando dificilmente admitiu que um
critério estético pudesse afirmar a superioridade da poesia de Pessoa sobre a de Pascoaes. Qualquer preferência entre duas personalidades
literárias tão marcadas, tão importantes e tão diversas como a de Pascoaes e a de Pessoa, muito se arrisca a ser anticriticamente subjectiva. (...)
Quando afirma acreditar que preferindo Pessoa
a Pascoaes, os brasileiros escolheram
bem, manifesta Otto Carpeaux uma crença
que, como tal, é pessoal e dificilmente discutível. Bem ousado seria atribuir a
tal-crença foros de infalibilidade (in Diário de Notícías, 30-4-1959)».
In António Cândido Franco, Eleonor na Serra de Pascoaes, Edições Átrio,
Lisboa, Colecção o Chão do Touro, 1992, ISBN-972-599-042-0.
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