terça-feira, 17 de junho de 2014

José de Encarnação. Das Guerras Peninsulares e das Epígrafes Romanas. «Um dos conjuntos mais importantes da epigrafia latina antiga da Península Ibérica, e um dos menos conhecidos, é constituído pelos materiais que Lothar Wickert…»

Pedestal de estátua encontrado em Aramenha
Esboços das inscrições feitas por Cornide
jdact

«(…) Em 1797, três anos antes da chegada de Cornide, tinha o duque de Lafões, citado por Hübner, dado notícia dessas epígrafes à Academia Portuguesa. Hübner viu ali seis inscrições, pois ainda estava no lugar CIL II 160. Quando, em 1798, visitou a Quinta do Deão o médico alemão Langsdorff, já só identificou CIL II 159, 161, 162, 163 e 164, isto é, as mesmas cinco inscrições que Cornide vira em Agosto de 1800. Significa isso que, entre 1797 e 1798, saiu do lugar o monumento CIL II 160, que reapareceu depois e se expõe hoje no Museu de Ammaia aí instalado.
A ser assim, a História literaria de cada uma dessas cinco epígrafes é a seguinte:
  • CIL II, 159: Editio princeps, em 1797, do duque de Lafões (daí, E. Xaro nos Annaes da Sociedade Archeologica Lusitana I-III, Lisboa 1850-1851, citado por Hübner. Em 1984, a parte direita encontrava-se no Museu de Marvão e, em 1986, o fragmento esquerdo na Quinta do Deão. Hoje no Museu de Ammaia.
  • CIL II, 161: Editio princeps de Langsdorff 1798. Vista em 1996, numa casa de Gomes Esteves, no Largo de Camões, de Marvão. Hoje no Museu de Ammaia. 
  • CIL II, 162: Editio princeps de Langsdorff 1798. Em 1984 no Museu de Marvão. 
  • CIL II, 163: Editio princeps, em 1797, do duque de Lafões (daí, E. Xaro nos Annaes da Sociedade Archeologica Lusitana II, Lisboa 1851. Em 1984, na posse de José Cordeiro. 
  • CL II, 164: Editio princeps, em 1797, do duque de Lafões (daí, E. Xaro nos Annaes da Sociedade Archeologica Lusitana II, Lisboa 1851. Localiza-se a parte inferior, em 1982, na Quinta do Deão.
Quando o general Alexander Dickson visitou a Quinta do Deão, a 24 de Fevereiro de 1810, indica, no seu diário que In the yard are three or four broken stones with Roman inscriptions, que deveria ser o conjunto já descrito por Lafões, Langsdorff e Cornide. Pelas notas de E. Xaro nos Annaes da Sociedade Archeologica Lusitana, que Hübner citou, ficamos a saber que o achamento deste grupo de epígrafes ocorreu em 1797, e que, até 1810, foram descritas pelo menos em quatro ocasiões.

O Estatuto Jurídico de Ammaia a propósito de uma Inscrição copiada em 1810
Um dos conjuntos mais importantes da epigrafia latina antiga da Península Ibérica, e simultaneamente um dos menos conhecidos, é constituído pelos materiais que Lothar Wickert, encarregado pela Academia de Berlim de preparar um segundo suplemento ao CIL II de Emílio Hübner, reunira com essa finalidade. Esses materiais são um mixtum compositum: representam não apenes os resultados das viagens epigráficas de Wickert por Espanha e Portugal, levadas a cabo nos anos de 1928 e 1931, respectivamente, de que somente chegaria a publicar uma magra e aleatória selecção em dois artigos, enquanto que o resto permaneceu como work in progress, abarcando desde excertos de anteriores publicações, passando por fichas de trabalho de campo até fichas perfeitamente elaboradas para a publicação; incluem, além disso, um número imenso de cartas, folhetos e notas soltas, que foram remetidas à Academia de Berlim, posteriormente à morte de Hübner, em 1901, por colegas e por correspondentes seus tanto peninsulares como internacionais». In Juan Manuel Abascal, Universidad de Alicante, Rosario Cebrián, Parque Arqueológico de Segóbriga, José d’Encarnação, Universidade de Coimbra, Marvão e Ammaia ao tempo das Guerras Peninsulares, IBN MARUAN, 2009, Edições Colibri, Câmara Municipal de Marvão, ISBN 978-972-772-876-3.

Cortesia de E. Colibri/CM de Marvão/JDACT