O Porto. Lugar de Memória. O Porto na obra de Alberto Pimentel
«Ao longo do século XX, foi já
salientada, por vários autores, a dedicação de Alberto Pimentel ao
Porto. Em Passos na Areia, uma obra de ensaios, Joaquim
Ferreira refere que: Ele [Alberto
Pimentel] empenhou-se na exaltação da cidade que lhe foi berço, e nem a
distância nem as ocupações lhe esmorecem o ânimo bairrista. De 1872 a 1916, desde os arrebóis da
juventude ao crepúsculo da velhice, publicou sete volumes consagrados ao Porto.
Mais adiante, na mesma obra, acrescenta-se: Todas
as suas obras sobre o Porto, desde Do
Portal à Clarabóia em
1872 à Praça Nova em
1916, demonstram a sua acrisolada
afeição pela terra onde nasceu, onde escolheu a noiva e lhe nasceu o primeiro
filho, e onde lhe aureolaram o nome os raios da glória. Joaquim Ferreira,
salientando o bairrismo do escritor, caracteriza-o como o portuense que viveu e morreu
fiel ao Porto. Do mesmo modo, Magalhães Basto, no Bosquejo Biográfico que introduz uma das obras de Alberto
Pimentel, O Anel Misterioso, refere que: É de 1872 o livro Do Portal à Clarabóia, em que começa
verdadeiramente a revelar-se um dos aspectos mais característicos da extensa e
intensa actividade literária de Pimentel:
o culto pelas coisas e costumes do seu enternecido Porto.
Como podemos verificar, de
acordo com as opiniões de Joaquim Ferreira e Magalhães Basto, a produção que Pimentel dedica ao Porto inicia-se em 1872, com a obra Do Portal à
Clarabóia. No entanto, defendemos que a bibliografia que Pimentel escreveu sobre o Porto teve
início não em 1872 mas em 1871,
com a obra Mistérios da Minha Rua, um volume de contos consagrado à rua, no Porto, onde
então o autor vivia. De facto, não obstante no título da dita obra não ser
feita nenhuma referência ao Porto, ao longo da leitura da mesma, não passa
despercebido o facto de que o espaço da acção narrada é o da Invicta.
Por conseguinte, estamos perante uma rua no Porto perspectivada como a
rua do autor, pois, como é dito, é um perdoável orgulho, inveterado
desde o berço, o que nos leva a dizer a minha rua com referencia áquella em que
moramos. E, se por um lado, o próprio autor identifica esta rua portuense
com aquela onde mora, por outro, não podemos esquecer as palavras de Henriques
Marques que, ao elaborar a bibliografia de Alberto Pimentel com a cooperação do
próprio, afirma que: a rua a que o título se refere é a do Almada, onde
o A. ao tempo morava.
Portanto, se pretendemos enumerar
as sete obras que Pimentel dedicou
ao Porto, podemos ordená-las da seguinte forma: Mistérios da Minha Rua (1871),
Do Portal à Clarabóia (1872), Guia do Viajante na Cidade
do Porto e seus Arrabaldes (1877), O Porto por Fora e por
Dentro (1878), O Porto há Trinta Anos (1893), O Porto na
Berlinda: Memorias duma Família Portuense (1894) e A Praça Nova (1916).
Estas obras são as que têm o Porto por tema exclusivo. Contudo, ao longo da
globalidade dos escritos de Pimentel,
encontramos várias referências isoladas ao seu enternecido Porto. Assim, devido
à multiplicidade e recorrência de referências ao Porto que o autor deixou nos
seus escritos, Rocha Martins enumera uma maior globalidade de obras, na qual é
identificado o amor de Pimentel à
sua terra natal. Como é salientado pelo dito autor: Em relação ao amor que ele e a esposa sentiam pelo Porto, mais do que
confirmado fica nos seus trabalhos: Mistérios
da Minha Rua; Do Portal
à Clarabóia; O Anel Misterioso; Entre o café e o Cognac; Homens
e datas; O Porto por fora e por dentro; Atravez do Passado; O
Porto há trinta anos; O Porto na Berlinda, no qual inclui
Memórias de uma família portuense, que são recordação da sua própria grei; o
Arco de Vandôma, em cujo entrecho romântico ainda
descreve o Porto. A Praça Nova é admirável evocação histórica do
local tão famoso da Invicta.
Da extensa bibliografia que Alberto
Pimentel escreveu sobre o Porto transparece a dedicação consagrada à
sua terra natal. Júlio Brandão, em Recordações de um Velho Poeta, salienta
que, ao escritor portuense, o Porto deve-lhe, em especial, uma gratidão
perene, de tal maneira esse homem lhe queria enternecidamente. Pois, como é
dito, Alberto Pimentel foi um portuense entusiasta, duma dedicação
inquebrável. Poucas são as referências feitas ao escritor que não
sejam associadas ao amor que o mesmo nutria pela Invicta. Num artigo
inserido na Nova Monografia do Porto, da autoria de Joaquim Costa e
intitulado aspectos da História
Literária do Porto, Pimentel
é referido como o escritor portuense que consagrou
sempre o maior interesse às pessoas e coisas da sua terra, ocupando-se muito do
Porto, dos seus costumes e tradições, bem como dos seus homens mais ilustres».
In
Rute Santos de Castro Lopo e Faro, O Porto na Berlinda. Memórias de
Alberto Pimentel, Faculdade de Letras, Universidade do Porto, Literaturas
Românicas, 2005.
Cortesia da FLUP/JDACT