O Capítulo Geral
«(…) A Ordem de Avis
possuía um único órgão colegiado de governo: o Capítulo Geral, onde
todos os freires (capelães ou cavaleiros) tinham assento e que era presidido
pelo mestre. Inicialmente, competia a este convocar diariamente essa reunião,
mas como escreve Rades y Andrada dado o
género de vida particular dos freires e a sua dispersão pelas Comendas, a
convocação do Capítulo não foi sempre possível. Por esse motivo, tal como
fazia Cister para o conjunto das abadias da Ordem, o mestre devia reunir pelo
menos uma vez por ano o Capítulo com a presença das diferentes dignidades da
Ordem e dos Comendadores, altura em que se promulgariam Definições, se
precisavam detalhes de observância religiosa e de disciplina e se decidiam
assuntos de ordem meramente económica (como conceder foros às vilas e
lugares do senhorio, efectuar vendas e escambos e fazer composições e contratos).
Encontrando-se vago o mestrado por morte ou renúncia do mestre, competia ao
comendador-mor convocar o Capítulo Geral com o objectivo de escolher o
cavaleiro que iria assumir a dignidade mestral. O cerimonial desta reunião é
hoje conhecido, pelo menos nas suas linhas gerais: deveriam estar presentes
nessa reunião especial, para além do
comendador-mor, os Treze do número
e todos os restantes freires. No caso de a reunião coincidir com uma visita do
mestre castelhano ou dos seus representantes, este(s) presidiria(m) ao
capítulo, dada a filiação de Avis em Calatrava. Seria, no entanto,
apenas aos Treze que competiria a escolha do novo Mestre, escolha que
devia ser ratificada pelos restantes cavaleiros e confirmada pelo superior
castelhano.
O Mestre
O Mestre era a máxima
autoridade da Ordem. Conforme diz Rades y Andrada, ele tinha a seu cargo la governación spiritual y temporal de toda ella
y en lo spiritual es como Abbad, en todo aquello que puede ser hecho e administrado
sin orden clerical. Não obstante, Avis tal como Calatrava,
apesar do seu carácter religioso, era governada por um freire que não era
obrigatoriamente um clérigo. Foi essa situação que levou Lomax a falar na
organização hierárquica dos freires como constituindo um paradoxo que originou
grandes problemas: la paradoja que una Orden religiosa fuera gobernada por un lego, a
quien los clerigos tenian que obedecer incluso en asuntos religiosos. Era
o mestre quem fazia a profissão e dava o hábito aos noviços. Sendo ele quem
dava provimento aos benefícios da Ordem bem como la collaciion y canonica
institucion dellos, devia procurar que fossem entregues apenas a
freires clérigos. Como principal responsável pelos bens materiais da Ordem,
cada mestre devia procurar reaver todas as propriedades móveis e de raiz que
estivessem nas mãos de seculares, podendo inclusive castigar os comendadores
que não mantivessem as vinhas e campos das suas comendas lavrados. Não podendo
usufruir das rendas das comendas que havia entregue a cavaleiros, os seus
rendimentos deveriam basear-se nas comendas de Avis, Benavente e Vila Viçosa
que pertenciam à mesa mestral.
Comendador-Mor
Ocupava o lugar mais
importante da Ordem logo a seguir ao mestre. Segundo Cocheril, o detentor desta
dignidade era, na época que nos ocupa, escolhido pelo mestre: é somente a
partir de 1397 que ele passa a ser
eleito pela maioria dos votos dos freires, para em 1631 já ser de novo dependente do estre. O comendador-mor governava
a milícia na ausência do mestre (em tempo de paz ou de guerra) e sempre
que o Mestrado se encontrava vago. Pertencia-lhe, como já foi referido,
convocar o Capítulo Geral para eleição do mestre. Gozava, por isso, de
uma posição privilegiada nesse órgão, já que como nos diz a Regra
de 1631 tinha o primeiro lugar
à esquerda do Mestre,
um degrau abaixo dele». In Maria Cristina A. Cunha, Estudos
sobre a Ordem de Avis, séculos XII-XV, Faculdade de Letras, Biblioteca Digital,
Porto, 2009.
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