«(…) O padre Lobo não
perdeu o tempo na Abyssínia, nem mesmo escapou a agudeza de seu espírito
investigador apontar Macuá como ponto estratégico e chave da Abyssínia. Os italianos
assim o reconheceram há poucos anos, quando ocuparam aquela cidade. Os abexins
favoreceram e trataram bem os portugueses enquanto careceram do seu auxilio,
nas dissensões internas; passado o perigo, a sua conduta tornou-se
insuportável. O próprio Patriarca João Bermudez foi preso, e se conseguira a
liberdade, ele mesmo declara deve-la ao auxilio de três portugueses, cujos nomes
menciona: Manoel Soveral, Peropalha e Denis Lima. O
Patriarca conseguiu por fim abandonar o país em 1565. É innegavel que os padres da Companhia praticaram importantes
serviços à religião e à civilisação; não é, porém, menos exacto que o seu
empenho de avassallar e de amontoar riquezas, foram causas de seu desprestigio no
seculo passado. Na Abyssinia, a impopularidade contra a Companhia chegou aos
frades indigenas, os quaes se sentiram desconsiderados e humilhados por
estranhos. Quanto fica relatado acerca da extraordinaria influencia e poderio
dos portuguezes nos mares Roxo e Persico, está comprovado em documentos
irrefragaveis, sobretudo os relativos aos annos de 1512 e 1544 – 1606 e 1690, os quaes encerram materia de
subido interesse com referencia á Abyssinia e á Persia.
Figuram entre aquelles documentos, as capitulações negociadas pelo
general do exercito de Ormuz e mar Roxo, Antonio Machado Brito com Calil
Baxa Bassora; como tambem os da missão de Gregorio Pereira Fidalgo, na
qualidade de Embaixador de El-Rei Dom Pedro II junto do Rei da Persia, para
felicital-o pela sua elevação ao throno, e para ratificar a Liga efeituada por
Francisco Pereira Silva, capitão-mór da armada de alto bordo do Estreito de
Ormuz e mar Roxo. O espirito esclarecido e eminentemente prático do insigne Affonso
de Albuquerque manifestam-se em toda a sua magnificencia n’aquellas paragens. Damos
por terminada a nossa investigação, a qual tivera por objecto reunir dados
historicos àcerca dos primeiros portuguezes que penetraram na Abyssinia».
In
Visconde de Soveral, Memória acerca dos portugueses na Abyssínia, Porto,
Tipografia do Comércio do Porto, 1894.
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