«Deitem-me raras ternuras
sobre os cabelos serenos.
O branco das vestiduras
que me tape os pés pequenos.
Abram portas ao sacrário
para Jesus rodear
com braços de ventos mansos,
astros, pinhais e luar,
ânsias, almas e o incenso
das noites de recordar…
Abram-me ao sono das tardes
o escuro dos desconsolos,
sem ruídos nem alardes.
Ao zumbido dos insectos
roubem a vida escaldante,
que enerva as sombras nos tectos.
No fundo dos meus vazios,
tão saturados de gelos,
deitem a cal dos defuntos
para roer pesadelos.
No fundo dos meus soluços
deitem mais água de chuva,
água embarcada com folhas,
água corrida com terra;
lama desfeita e refeita
nas fendas fundas da serra.
Depois, ante os fatos podres,
minha solidão de mundos,
meu sonho esparso e sem chão,
parem séculos e séculos.
Sobre esta fonte rebelde,
distante, erguida
e vencida,
inscrevam as agonias
que foram da minha vida.
……………………………
Sobre a dor do meu olhar
as agonias do mar!
Poema
de Natércia Freire,
in ‘Poesias Escolhidas’
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