domingo, 14 de setembro de 2014

Chove. A chuva não molha neste Domingo. Poesia. «É tão frágil, tão doente! É como um fio amarrado entre o passado e o presente, entre o presente e o passado. Chove. A chuva não molha mas acorda a saudade dos ninhos conchegados e das luzes quebradas da tardinha»

jdact e wikipedia

«Deitem-me raras ternuras
sobre os cabelos serenos.
O branco das vestiduras
que me tape os pés pequenos.

Abram portas ao sacrário
para Jesus rodear
com braços de ventos mansos,
astros, pinhais e luar,
ânsias, almas e o incenso
das noites de recordar…

Abram-me ao sono das tardes
o escuro dos desconsolos,
sem ruídos nem alardes.

Ao zumbido dos insectos
roubem a vida escaldante,
que enerva as sombras nos tectos.


No fundo dos meus vazios,
tão saturados de gelos,
deitem a cal dos defuntos
 para roer pesadelos.

No fundo dos meus soluços
deitem mais água de chuva,
água embarcada com folhas,
água corrida com terra;
lama desfeita e refeita
nas fendas fundas da serra.

Depois, ante os fatos podres,
minha solidão de mundos,
meu sonho esparso e sem chão,
parem séculos e séculos.

Sobre esta fonte rebelde,
distante, erguida
e vencida,
inscrevam as agonias
que foram da minha vida.

……………………………

Sobre a dor do meu olhar
as agonias do mar!
Poema de Natércia Freire, in ‘Poesias Escolhidas

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