«No
soalho da casa das memórias
oiço
estalar o tempo.
Os
odores e as vozes cantam
para
adormecer o passado.
A voz
da Mãe, grandiosa e única,
ecoa
por todos os lugares da casa.
Então,
eu choro em silêncio
para
não acordar os fantasmas
que
a memória alimenta no seu colo».
«Pior
do que morrer
é
perder a memória.
Terem
vendido a casa
e
alugado os seus fantasmas.
Pior
do que morrer
é
estar perdido,
não
reconhecer os cheiros
e
os sabores da infância.
Fantasma
errante
flanando
ao longo do rio
de
onde já não partem
nem
chegam barcos
para
lugar nenhum.
Um
porto moribundo.
Eis
o que resta da alegria!»
Poemas de Maria Sarmento, in ‘O Silêncio e as Vozes’
In
Maria Sarmento. O Silêncio e as Vozes, colecção O Guardador de Rebanhos, Aríon
Publicações, Lisboa, 1999, ISBN 972-8409-09-5.
Cortesia
de Aríon/JDACT