«Minh’alma,
de sonhar-te, anda perdida.
Meus
olhos andam cegos de te ver!
Não
és sequer razão do meu viver,
pois
que tu és já toda a minha vida!
Não
vejo nada assim enlouquecida…
Passo
no mundo, meu amor, a ler
no
misterioso livro do teu ser
a
minha história tantas vezes lida!
Tudo no mundo é frágil, tudo passa…
Quando
me dizem isto, toda a graça
duma
boca divina fala em mim!
E,
olhos postos em ti, digo de rastros:
ah! Podem voar mundos, morrer astros,
que tu és como Deus: princípio e fim!...»
«Horas
profundas, lentas e caladas
feitas
de beijos sensuais e ardentes,
de
noites de volúpia, noites quentes
onde
há risos de virgens desmaiadas…
Ouço
as olaias rindo desgrenhadas…
Tombam
astros em fogo, astros dementes.
E do
luar os beijos languescentes
são
pedaços de prata p’las estradas…
Os
meus lábios são brancos como lagos…
Os
meus braços são leves como afagos,
vestiu-os
o luar de sedas puras…
Sou
chama e neve branca e misteriosa…
E sou,
talvez, na noite voluptuosa,
ó
meu poeta, o beijo que procuras!»
Sonetos de Florbela Espanca, in ‘Líricas Portuguesas’
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