sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Poesia. Música. Voz. Antologias Universais. «Para aqueles fantasmas que passaram, vagabundos a quem jurei amar, nunca os meus braços lânguidos traçaram o voo dum gesto para os alcançar…»

jdact e wikipedia

«Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver,
pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu amor, a ler
no misterioso livro do teu ser
a minha história tantas vezes lida!

Tudo no mundo é frágil, tudo passa
Quando me dizem isto, toda a graça
duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
ah! Podem voar mundos, morrer astros,
que tu és como Deus: princípio e fim!...»


«Horas profundas, lentas e caladas
feitas de beijos sensuais e ardentes,
de noites de volúpia, noites quentes
onde há risos de virgens desmaiadas…

Ouço as olaias rindo desgrenhadas…
Tombam astros em fogo, astros dementes.
E do luar os beijos languescentes
são pedaços de prata p’las estradas…

Os meus lábios são brancos como lagos…
Os meus braços são leves como afagos,
vestiu-os o luar de sedas puras…

Sou chama e neve branca e misteriosa…
E sou, talvez, na noite voluptuosa,
ó meu poeta, o beijo que procuras!»
Sonetos de Florbela Espanca, in ‘Líricas Portuguesas

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