quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Terra Brava. Frederico Brito. «Olha a minha ‘Terra Brava’!... Negra e seca, dura e crua, onde o aço da charrua não abriu um rego só! Nem a sombra dum pinheiro, nem o espelho dum regato, só pedregulhos e mato, só ventanias e pó!..»

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Luz estranha
«De que é essa luz estranha
que ao longe se vê brilhar,
no mais alto da montanha,
sempre, sempre a cintilar,
onde o mato se emmaranha
como fios num tear?

Move-se de vez em quando
de tal forma, que parece,
uma estrelinha saltando
assim que a noite adormece,
ou raio de sol bailando
por sobre a aloirada messe!

Será o alfange dum moiro
nalgum combate sangrento,
ou grandes moedas d'oiro
que estejam lançando ao vento,
de inesgotável tesoiro
dalgum Cresus avarento?

Que luz estranha é aquela,
que depois dum arrebol,
nesta manhã fresca e bela,
brilha tanto á luz do Sol?
Luz de estrela não é ela
nem é facho de farol.

Subo a montanha elevada;
transponho essa grande altura;
que vejo da luz doirada
que a minha vista procura?
Veio o aço duma enxada
abrindo uma sepultura!!»
Poema de Frederico Brito, in ‘Terra Brava

In J. Frederico Brito, Terra Brava, Versos, Empresa Nacional de Publicidade, Lisboa, 1932.

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