O Diabo sem Máscara
«Um diabo de Mestre Gil
tira a máscara de teatro
e fica como na vida.
Dinato, escreve
letra por letra
o que eu te dito:
a caridade interesseira
e a fingida devoção
que trocam os bens do céu
pelos gozos deste mundo.
Dinato, escreve
como eu te dito:
não servem de salvação
são motivo de castigo.
Dinato, escreve
letra por letra
o que eu te dito:
a justiça corrompida
e o direito violado
o inocente perseguido
e o criminoso exaltado.
Dinato, escreve
como eu te dito:
terão castigo.
Dinato, escreve
letra por letra
o que eu te dito:
o orgulho da humildade
que se aponta como exemplo
com a máscara da mentira
por detrás da indiferença.
Dinato, escreve
como eu te dito:
terá castigo.
Dinato, escreve
letra por letra
o que eu te dito:
os falsos puritanos
que pregam a abstinência
escondendo o que é natural
para o fazer licencioso.
Dinato, escreve
como eu te dito:
terão castigo
Dinato, escreve
letra por letra
o que eu te dito:
a ovelha ranhosa
que de lobo se disfarça
com as manhas da raposa.
Dinato, escreve
como eu te dito:
a inclemência do tirano
como o lobo carniceiro
que de inocente se mascara
terão castigo.
Assim é, Dinato,
como eu te dito».
In Joaquim Namorado, Nos Bastidores do Palco de Mestre Gil, Universidade
de Coimbra, O Instituto, volumes 140/141, Auro Pretiosior, Revista Científica e
Literária, Coimbra Editora Limitada, Coimbra, 1980/1981.
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