quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Poesia. Rosa Lobato Faria. «De todas as palavras escolhi dar. De todas as palavras escolhi flor porque terra, papoila, cor, semente porque rosa, recado, porque pele porque pétala, pólen, porque vento…»

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Vimos chegar as andorinhas
«Vimos chegar as andorinhas
conjugarem-se as estrelas
impacientarem-se os ventos.
Agora
esperemos o verão
do teu nascimento
tranquilos, preguiçosos.
Tão inseparáveis as nossas fomes.
Tão emaranhadas as nossas veias.
Tão indestrutíveis os nossos sonhos.
Espera-te um nome
breve como um beijo
e o reino ilimitado
dos meus braços.
Virás
como a luz maior
no solstício de Junho.


Quimera
«Eu quis um violino no telhado
e uma arara exótica no banho.
Eu quis uma toalha de brocado
e um pavão real do meu tamanho.
Eu quis todos os cheiros do pecado
e toda a santidade que não tenho.
Eu quis uma pintura aos pés da cama
infinita de azul e perspectiva.
Eu quis ouvir, ouvir a história de Mira Burana
na hora da orgia prometida.
Eu quis uma opulência de sultana
e a miséria amarga da mendiga.
Eu quis um vinho feito de medronho
de veneno, de beijos, de suspiros.
Eu quis a morte de viver dum sonho
eu quis a sorte de morrer dum tiro.
Eu quis chorar por ti durante o sono
eu quis ao acordar fugir contigo.
Mas tudo o que é excessivo é muito pouco.
Por isso fiquei só, com o meu corpo».
Poemas de Rosa Lobato de Faria, in ‘Antologia

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