Ao serviço de Nuno Álvares
«(…) É então que os castelhanos, que se preparavam já para prosseguir a
marcha em direcção ao Porto, lançam um poderoso destacamento contra as forças
de João Ramalho que, apesar de inicialmente se encontrarem em inferioridade
numérica, conseguem rechaçar os combatentes adversários, entre os quais é
possível que tenham mesmo infligido pesadas baixas. Perante este inesperado revés,
o arcebispo decide interromper a ofensiva e retira com o seu exército para a
Galiza. Afastada a ameaça, as forças portuguesas regressam então à cidade do
Porto, certamente que já a planear a melhor forma de retaliar. Enquanto eram
ultimados os preparativos para a viagem de volta à capital, as galés lisboetas,
reforçadas já por algumas embarcações portuenses e mais uma vez sob a liderança
do conde Pedro de Trastâmara, preparam-se para levar a cabo uma série de
ataques navais contra as povoações costeiras da Galiza, uma ofensiva em que
Antão Vasques irá participar na qualidade de capitão da galé Santa
Maria de Cacela, a mesma que comandava desde a partida de Lisboa.
O primeiro alvo da frota é a vila de Baiona, imediatamente a norte da
foz do Minho, que sem esboçar qualquer resistência, prefere pagar 400 francos
aos atacantes, de modo a que estes não provocassem danos nas suas habitações e
bens. De seguida as galés dirigem-se contra Mugia, escassas milhas depois de
dobrarem o Cabo Finisterra, onde incendeiam duas embarcações. Progredirem então
contra La Coruña onde, tal como em Baiona, a população prefere também pagar,
desta feita 600 francos, para que os portugueses não lançassem qualquer ataque
contra a cidade. Com a frota aí fundeada, um grupo de seis galés ruma até
Ferrol, onde praticamente toda a povoação é reduzida a cinzas e, de seguida,
contra Neda, de onde retiram, mais uma vez, contra o pagamento de 400 francos.
Com todas as embarcações novamente reunidas junto a La Coruña, a frota progride
até Betanzos, onde capturam uma galé, e incendiam duas naus, uma das quais
transportava engenhos destinados ao cerco de Lisboa. Só então o comando
português dá ordens para o desembarque e para o início do ataque à povoação,
certamente porque os seus habitantes se haviam recusado a pagar o que lhes
havia sido exigido.
Entre os que integram as vagas de assalto que tentam ultrapassar as fortes
muralhas da vila vamos reencontrar o enérgico,
Antão Vasques, como lhe chama João Gouveia Monteiro. A pressão parece ter sido
de tal forma intensa que, ao fim de poucas horas de luta, a guarnição local
estava à beira de capitular, tendo já abandonado alguns sectores da muralha.
Mas quando ninguém o esperava, o conde Pedro de Trastâmara dá ordens para
suspender o ataque, de modo a poder ser dado um prazo para que os defensores
pudessem aceitar a proposta de preitesia apresentada pelo comandante das forças
portuguesas. Esse período permitiu, todavia, que durante a noite chegassem
reforços vindos de diversas localidades da região, o que deitou por terra a
perspectiva de uma rendição. Sem meios para manterem a vila cercada durante muito
mais tempo, os portugueses optam por retirar e regressar ao Porto, atacando
durante o trajecto diversas outras povoações da costa galega. A chegada ao
Porto tem lugar num clima verdadeiramente festivo e em plena véspera de São
João, tendo a ocasião sido devidamente celebrada com um torneio disputado com
armas reais e afiadas, mas acerca do qual não temos qualquer informação de que
tenha contado com a participação de Antão Vasques, já que as fontes narrativas
referem apenas os nomes de Afonso Henriques e de Pedro de Trastâmara, seu irmão.
O Tejo, Coimbra e o Minho
Antão Vasques regressa a Lisboa em Julho, integrado na frota oriunda do
Porto e de novo ao comando da galé, Santa Maria de Cacela, participando,
portanto, na Batalha Naval do Tejo, ferida no dia 18 desse mês. A sua
embarcação terá entrado na barra integrada numa coluna de 16 outras galés
escoltadas, a bombordo e a estibordo, por duas colunas de naus. Foram
precisamente as naus, em concreto as que avançavam mais próximo da margem
norte, os únicos navios a envolver-se, de forma activa, em combate com os
navios castelhanos que bloqueavam a cidade pelo lado do rio. Assim, apesar dos
enormes riscos inerentes a essa operação, não houve qualquer intervenção da
galé, de Antão Vasques na batalha propriamente dita». In Miguel Gomes Martins,
Guerreiros Medievais Portugueses, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2013, ISBN
978-989-626-486-4.
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