quarta-feira, 4 de março de 2015

Poesia. Acácio Matias. Música. «O mais alto de nós não é mais que um conhecedor mais próximo do oco e do incerto de tudo. Os deuses são a encarnação do que nunca poderemos ser»

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Monte da Madalena
«Ali aonde o céu é mais pertinho
e onde mais a sós a natureza
ao Criador bendiz, reza baixinho
uma oração de paz e de beleza;

Madalena onde os anjos ao sol-pôr
se esquecem da feliz mansão divina
para sorver o mágico palor
da tarde que fenece purpurina...

Numa clara manhã, morna de encanto,
enlevado subi o monte santo,
e fui, também, lá cima de romagem.

E num deslumbramento de Tabor,
transfigurar-se, então, vi o Senhor
ante o divino quadro da paisagem!...


Adolescências
I
Nasceu uma estrela
quando eu nascia.
Ao nascer tive uma estrela
Por companhia...

Para toda a parte
por onde eu ia,
a estrela me seguia
solícita como um anjo.

Mas essa estrela
que nasceu quando eu nascia,
não era uma estrela
bela como as demais...

Era uma estrela fosca,
uma estrela sem brilho
que me guiava
como a um filho.

Mas a pobre estrela
era cega, e assim caminhámos
os dois num confundidos
sem ver por onde íamos.
quantos perigos afrontámos;
ó Deus, que infeliz jornada!

Essa estrela que nasceu
quando eu nascia;
que nasceu sem luz, sem brilho
para iluminar o meu caminho,
foi a estrela da minha sorte.

Estrela sem brilho,
vida sem norte,
vivo no mundo sem ventura,
procuro na vida o sabor da morte,
procuro no mal o gozo d’amargura...
Soneto e poema de Acácio Matias, in ‘Fora de Moda’ (8out49 e 21jun46)

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