terça-feira, 7 de abril de 2015

Corpo Nu. Senti Amargo. Hélio C. Ferreira. «Assim como lavamos o corpo devíamos lavar o destino, mudar de vida como mudamos de roupa. Prouvera aos deuses, meu coração triste, que o destino tivesse um sentido…»

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Corpo Nu
«Espaço solto
silêncio que não queima
a fenda corpo nu
exposta aqui em vão
sombreada parede
leito devoluto
glaciar parado
em mar revolto.
Só!

Escravos de cetim
teus pensamentos
cobertos de desejos
desmedidos
estrutura do nada
fel caminho
repouso natural
em peito meu.

E logo voltas
muro ensanguentado
capricho em teu desterro
de vómitos cuspido.
Passa
mas volta
formiga monstruosa
entrega esse poder
de dar
que me revolta.

E queda-te a meus pés
já rastejando
que nada me tiraste
maré de fogo
num mundo separado.

Silêncio que não queima
a fenda corpo nu
exposta aqui em vão
entrega esse poder
ou diz enfim
que não».


Senti Amargo
«Senti amargo
em madrugada fria
certeza descontente
desse olhar parado
colhi gritos de riso
gemidos de prazer
em erva enlameada
no múltiplo capricho
que nua revelaste.

Cuspi de raiva
a tua boca seca
bebi teu leite
escorregando nojo
depois brinquei comigo
e só que estava.
Dormi sentindo
o erro que tu eras

Senti amargo
em madrugada fria
eu nada sou amor
sou só o que queria».
Poemas de Hélio C. Ferreira, in ‘As Virgens

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