Ignoto
Deo
«Que
beleza mortal se te assemelha,
ó
sonhada visão desta alma ardente,
que
reflectes em mim teu brilho ingente,
lá
como sobre o mar o Sol se espelha?
O
mundo é grande, e esta ânsia me aconselha
a
buscar-te na Terra: e eu, pobre crente,
pelo
mundo procuro em Deus clemente,
mas
a ara só lhe encontro…, nua e velha…
Não
é mortal o que eu em ti adoro.
Que
és aqui? Olhar de piedade,
gota
de mel em taça de venenos…
Pura
essência das lágrimas que choro
e
sonho dos meus sonhos! Se és verdade,
descobre-te,
visão, no céu ao menos».
Soneto de Antero de Quental, in ‘Sonetos Completos’
In
Antero de Quental, Sonetos Completos, 1886, Grandes Clássicos da Poesia, Publicações
Europa-América, 1998, ISBN 972-104-421-0.
Cortesia
de PEAmérica/JDACT