«Somente depois da morte de Sancho III de Castela ocorrida em 1458, um ano após o falecimento do
imperador Afonso VII, é que com toda a probabilidade Fernando II, a troco do
reconhecimento por parte de Afonso Henriques do título de soberano de toda a
Espanha, permite que se criem as condições para que os portugueses retomem a sua
iniciativa no campo militar em terras do Alentejo. Mesmo assim pouco depois da
conquista de Alcácer estimula-se a iniciativa privada nas acções militares,
destacando-se pela sua temeridade o conquistador de Évora, o famoso Geraldo. As
praças alentejanas ora são conquista das, ora deixam de o ser, numa alternância
permanente. O período de 1160 a 1165 corresponde a uma série
de guerras com Leão, saldando-se por algumas conquistas territoriais na Galiza,
Fernando II reconheceu a autonomia portuguesa e consorciou-se com dona Urraca,
filha de Afonso Henriques. Em 1169
assiste-se a uma invasão dos almóadas, comandados por Abú Iacube, o qual depois
de ter conquistado quási todo o Alentejo cerca o povoado português em Santarém.
Esta circunstância leva-o a pactuar com os muçulmanos e a pedir tréguas pelo
espaço de dois anos. Nesse mesmo ano ataca Badajoz, sendo mal sucedido ao cair
do cavalo, quebrar uma perna e ficar prisioneiro do genro.
Incapacitado para o combate coube a seu filho Sancho I a condução das
operações militares. Numa delas (1173) o príncipe herdeiro penetrou
até Sevilha e regressou cheio de prestígio e de despojos. Uma das constantes da
política de Afonso Henriques consistiu em normalizar as relações com a Santa
Sé. Fruto dessa perspicácia resultou a concessão da bula Manifestis Probatum (1179) pelo papa Alexandre III, que
reconheceu ao monarca português o título de rei, transmissível a seus
sucessores, com a garantia do reconhecimento na posse das terras conquistadas
aos muçulmanos, desde que as mesmas não pertencessem aos príncipes cristãos
seus vizinhos. O permanente fluxo e refluxo das armas cristãs revela a insuficiência
do domínio de certas áreas totalmente por colonizar. Sancho I que herdara o trono
por falecimento de seu pai (1185), tira partido por ocasião da
terceira cruzada, duma armada de escandinavos, flamengos e alemães que havia
fundeado no Tejo. Dirige-se ao Algarve e ocupa o castelo de Alvor (1189).
No mesmo ano, apoiado noutro contingente, realiza a conquista de Silves, que
era na altura a capital do Garb
sarraceno, As grandes invasões do chefe almóada Al-Mansur fizeram-no perder
todo o Alentejo, à excepção de Évora, (1190-1191), com um avanço até à
linha do Tejo, que ultrapassada deu origem ao cerco de Torres Novas. Envolveu-se
Sancho I em conflitos com o rei leonês (1196-1197 e 1199-1200) e com o clero
portucalense (1208- 1211).
Hábil diplomata Sancho I estabelece relações com alguns países europeus
através duma bem urdida política de casamentos. Internamente promove a
colonização e o repovoamento. O número de forais por ele concedidos ultrapassa
o quantitativo de sessenta. Além de promover as ordens dos Templários e dos
Hospitalários, que entraram no nosso país no reinado de Afonso Henriques,
apoiou as milícias de Santiago e de Calatrava (Avis), cuja acção militar
e repovoadora foi a todos os títulos notável. Com o advento de Afonso II (1211)
criam-se os mecanismos que visam o aumento da autoridade do estado. Na luta
contra o poderio do alto clero e da nobreza, com replicação das inquirições,
constitui uma arma ensaiada pelo rei-leproso. Opôs-se tenazmente ao testamento
paterno o que ensanguentou o reino durante três anos (1211-1214). Na coligação
organizada contra o monarca entraram o rei de Leão Afonso IX e o próprio papa
Inocêncio III. Excomungado pela Santa Sé (1220), reconciliou-se com a igreja
ao sentir que se aproximava a morte, que ocorreu em 1223, sendo ainda jovem. No plano militar organizou um exército, em
que se integravam os freires do Templo, do Hospital e de Santiago, tendo o
mesmo conquistado Alcácer do Sal (1217) em definitivo. Já anteriormente
(1212)
enviara uma expedição militar a Navas de Tolosa, que cooperou com Castela na vitória
alcançada sobre os muçulmanos.
O reinado de Sancho II caracterizou-se pela turbulência imposta pelos
poderosos que se aproveitaram da fraqueza e da incapacidade do rei. Grande
parte do Alentejo e uma pequena parte do Algarve foram entregues às ordens monástico-militares,
na sequência de campanhas de ocupação fundamentalmente resultantes do colapso
almóada. Face ao clima de tumultos o papa Inocêncio IV convencido pelo alto clero
que o rei não tinha condições para reinar nomeou como curador do reino o seu
irmão Afonso. Este que era conde de Bolonha e se encontrava fora do país desde
a adolescência veio para Portugal. Na sequência da guerra civil (1246-1247)
o rei Sancho refugiou-se em Castela, onde veio a falecer pouco depois. Graças
sobretudo às promessas que fez ao clero, o rei Afonso III alcançou o poder (1248).
À medida porém que assumiu as rédeas da governação faltou ao prometido. Além
das lutas que entabulou contra o bispo do Porto e outros prelados, também
contra a nobreza aplicou as inquirições e outras normas legais tendentes a
refrear o seu poderio de senhores feudais. No seu reinado concluiu-se a
conquista do território português com a ocupação de Faro (1249). A integração do
reino do Algarve em Portugal não foi bem recebida pelo reino de Castela. A
questão em aberto apenas ficou resolvida quando Afonso X o Sábio pelo tratado de Badajoz (1267), renunciou à sua
posse em benefício de seu neto Dinis». In Humberto C. Baquero Moreno, Evolução
Política, Nos Confins da Idade Média. Arte Portuguesa. Séculos XII-XV,
Instituto Português dos Museus, Porto.1992.
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