terça-feira, 9 de junho de 2015

Nos Confins da Idade Média. Arte Portuguesa. Séculos XII-XV. Evolução Política. Humberto Moreno. «Hábil diplomata Sancho I estabelece relações com alguns países europeus através duma bem urdida política de casamentos. Internamente promove a colonização e o repovoamento. O número de forais por ele concedidos ultrapassa o quantitativo de sessenta»

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«Somente depois da morte de Sancho III de Castela ocorrida em 1458, um ano após o falecimento do imperador Afonso VII, é que com toda a probabilidade Fernando II, a troco do reconhecimento por parte de Afonso Henriques do título de soberano de toda a Espanha, permite que se criem as condições para que os portugueses retomem a sua iniciativa no campo militar em terras do Alentejo. Mesmo assim pouco depois da conquista de Alcácer estimula-se a iniciativa privada nas acções militares, destacando-se pela sua temeridade o conquistador de Évora, o famoso Geraldo. As praças alentejanas ora são conquista das, ora deixam de o ser, numa alternância permanente. O período de 1160 a 1165 corresponde a uma série de guerras com Leão, saldando-se por algumas conquistas territoriais na Galiza, Fernando II reconheceu a autonomia portuguesa e consorciou-se com dona Urraca, filha de Afonso Henriques. Em 1169 assiste-se a uma invasão dos almóadas, comandados por Abú Iacube, o qual depois de ter conquistado quási todo o Alentejo cerca o povoado português em Santarém. Esta circunstância leva-o a pactuar com os muçulmanos e a pedir tréguas pelo espaço de dois anos. Nesse mesmo ano ataca Badajoz, sendo mal sucedido ao cair do cavalo, quebrar uma perna e ficar prisioneiro do genro.
Incapacitado para o combate coube a seu filho Sancho I a condução das operações militares. Numa delas (1173) o príncipe herdeiro penetrou até Sevilha e regressou cheio de prestígio e de despojos. Uma das constantes da política de Afonso Henriques consistiu em normalizar as relações com a Santa Sé. Fruto dessa perspicácia resultou a concessão da bula Manifestis Probatum (1179) pelo papa Alexandre III, que reconheceu ao monarca português o título de rei, transmissível a seus sucessores, com a garantia do reconhecimento na posse das terras conquistadas aos muçulmanos, desde que as mesmas não pertencessem aos príncipes cristãos seus vizinhos. O permanente fluxo e refluxo das armas cristãs revela a insuficiência do domínio de certas áreas totalmente por colonizar. Sancho I que herdara o trono por falecimento de seu pai (1185), tira partido por ocasião da terceira cruzada, duma armada de escandinavos, flamengos e alemães que havia fundeado no Tejo. Dirige-se ao Algarve e ocupa o castelo de Alvor (1189). No mesmo ano, apoiado noutro contingente, realiza a conquista de Silves, que era na altura a capital do Garb sarraceno, As grandes invasões do chefe almóada Al-Mansur fizeram-no perder todo o Alentejo, à excepção de Évora, (1190-1191), com um avanço até à linha do Tejo, que ultrapassada deu origem ao cerco de Torres Novas. Envolveu-se Sancho I em conflitos com o rei leonês (1196-1197 e 1199-1200) e com o clero portucalense (1208- 1211).
Hábil diplomata Sancho I estabelece relações com alguns países europeus através duma bem urdida política de casamentos. Internamente promove a colonização e o repovoamento. O número de forais por ele concedidos ultrapassa o quantitativo de sessenta. Além de promover as ordens dos Templários e dos Hospitalários, que entraram no nosso país no reinado de Afonso Henriques, apoiou as milícias de Santiago e de Calatrava (Avis), cuja acção militar e repovoadora foi a todos os títulos notável. Com o advento de Afonso II (1211) criam-se os mecanismos que visam o aumento da autoridade do estado. Na luta contra o poderio do alto clero e da nobreza, com replicação das inquirições, constitui uma arma ensaiada pelo rei-leproso. Opôs-se tenazmente ao testamento paterno o que ensanguentou o reino durante três anos (1211-1214). Na coligação organizada contra o monarca entraram o rei de Leão Afonso IX e o próprio papa Inocêncio III. Excomungado pela Santa Sé (1220), reconciliou-se com a igreja ao sentir que se aproximava a morte, que ocorreu em 1223, sendo ainda jovem. No plano militar organizou um exército, em que se integravam os freires do Templo, do Hospital e de Santiago, tendo o mesmo conquistado Alcácer do Sal (1217) em definitivo. Já anteriormente (1212) enviara uma expedição militar a Navas de Tolosa, que cooperou com Castela na vitória alcançada sobre os muçulmanos.
O reinado de Sancho II caracterizou-se pela turbulência imposta pelos poderosos que se aproveitaram da fraqueza e da incapacidade do rei. Grande parte do Alentejo e uma pequena parte do Algarve foram entregues às ordens monástico-militares, na sequência de campanhas de ocupação fundamentalmente resultantes do colapso almóada. Face ao clima de tumultos o papa Inocêncio IV convencido pelo alto clero que o rei não tinha condições para reinar nomeou como curador do reino o seu irmão Afonso. Este que era conde de Bolonha e se encontrava fora do país desde a adolescência veio para Portugal. Na sequência da guerra civil (1246-1247) o rei Sancho refugiou-se em Castela, onde veio a falecer pouco depois. Graças sobretudo às promessas que fez ao clero, o rei Afonso III alcançou o poder (1248). À medida porém que assumiu as rédeas da governação faltou ao prometido. Além das lutas que entabulou contra o bispo do Porto e outros prelados, também contra a nobreza aplicou as inquirições e outras normas legais tendentes a refrear o seu poderio de senhores feudais. No seu reinado concluiu-se a conquista do território português com a ocupação de Faro (1249). A integração do reino do Algarve em Portugal não foi bem recebida pelo reino de Castela. A questão em aberto apenas ficou resolvida quando Afonso X o Sábio pelo tratado de Badajoz (1267), renunciou à sua posse em benefício de seu neto Dinis». In Humberto C. Baquero Moreno, Evolução Política, Nos Confins da Idade Média. Arte Portuguesa. Séculos XII-XV, Instituto Português dos Museus, Porto.1992.

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