Sétimos
Aforismos
«(…)
No
seu nível mais alto, a prova da existência de Deus pela experiência mística é
de facto..., por convites. É uma prova..., que para assistirmos à respectiva
exibição, ou apresentação, (ou representação...), não há bilhetes; não se
vendem bilhetes; não se puseram bilhetes à venda na bilheteira filosofia. (Bis-bilhoteira
filosofia?) Enfim, é uma prova..., muito selecta..., muito secreta..., como que
snob...: só por convites...
Não-democrática...
Aristocrática... (não direi!). Oh que
antipática! Oh que antipática! (foto?!)
Pergunta: Mas porque é
que o vosso Deus fabrica, numerosos místicos maus (ou medíocres), e raríssimos
místicos bons? Resposta: Porque tem essa mania. Tanto que também fabrica, por
exemplo: numerosíssimos poetas maus (ou medíocres), e raríssimos poetas bons;
numerosíssimas, super-numerosíssimas (facetas
de actos feios) mulheres feias, e raras, relativamente bastante raras mulheres
bonitas...
Qual
é a melhor prova da imortalidade da alma? A melhor?; não sei. Mas uma das
melhores..., é o enterro. O enterro? Pois, o enterro. Qual enterro?! O
enterro... do (lixo) conde. Do (lixo) conde? Qual (lixo) conde? De Orgaz. O enterro do conde (lixo) de Orgaz. Do Doménico Theotokópulos, El Espanol. Sim:
acho que esse quadro é uma prova tão evidente da imortalidade da alma, que até
se lá vê, até se lá vê a própria alma..., a ir para o Céu. Bem..., mas assim é
fácil provar. Pintando...! Mas foi difícil, foi dificílimo assim pintar. Provando...!
Quer dizer: você acha..., que é evidente... Escute. Eu acho, que é vidente. Um
pintor vidente. Ou antes: um vidente pintor...
Se
todos os cegos resolvessem fazer a seguinte afirmação: a palavra Luz não tem
sentido, todos podiam deixar de ser cegos. Todos podiam ser promovidos..., a
positivistas lógicos (e ecológicos).
No
século XX, filósofos chamados positivistas lógicos descobriram que os crentes,
os ateus e os agnósticos de todos os tempos andaram em todos os tempos
redondamente enganados (com a ecologia).
Só eles, positivistas lógicos, compreenderam finalmente que a palavra Deus é
cem por cento absurda e desprovida de sentido, de forma que afirmar que Deus
existe (como afirmam os crentes) é tão absurdo e desprovido de sentido como
afirmar que Deus não existe (como afirmam os ateus), ou como afirmar que não se
pode afirmar nem que Deus existe nem que não existe (como afirmam os
agnósticos). Em suma, qualquer proposição que tenha, contenha a palavra Deus,
os positivistas lógicos têm o senso..., de
considerá-la puro não-senso. À vista dos autos, impõem-se portanto várias conclusões;
entre elas a seguinte, bastante inevitável: um positivista lógico sozinho (ou
mesmo um semi, um simples semi-positivista-lógico e não ecológico em zona histórica) é, revela-se (pelo menos neste
capítulo, pelo menos nesta matéria de lixo)
uma pessoa muito mais lúcida, muito mais fina, muito mais esperta, que todos os
crentes juntos, todos os agnósticos juntos, e todos os ateus juntos, de todos
os séculos juntos (neste monte de m…)».
In
Vicente Sanches, Van Gogh e Sétimos Aforismos, edição numerada com nº 000051, Gráfico
de S. José, Castelo Branco, 1990.
Cortesia
de G S.José/JDACT