domingo, 5 de julho de 2015

Antão Vasques. Portugueses Medievais. Miguel G. Martins. «… ainda vir a receber, o lugar de Unhos e a adega de Camarate. Nesse documento, datado do dia 10 de Setembro de 1384, ou seja, lavrado nem uma semana depois da partida da hoste inimiga…»

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O Tejo, Coimbra e o Minho
«(…) Terá, pois, chegado incólume a Lisboa onde, tal como os tripulantes, guarnições e comandantes dos restantes navios vindos do Porto, foi recebido pelo Mestre de Avis. Integrou-se então na defesa da capital, não se lhe conhecendo, no entanto, qualquer acção armada durante o cerco, o que não invalida que, como pensamos, se tenha envolvido em algumas das escaramuças que tiveram lugar entre as últimas semanas de Agosto e os primeiros dias de Setembro. Foi precisamente no dia 4 desse mês que a hoste castelhana, profundamente desgastada devido a um surto de peste que dizimava diariamente uma centena de combatentes, levantou o cerco iniciado em Maio. Ao fim de quase quatro meses de fome e angústia, a cidade e os seus habitantes podiam, finalmente, respirar de alívio. Não demorou até que o Mestre de Avis recompensasse de forma generosa muitos daqueles que o tinham apoiado durante esse período, em particular os que tinham integrado a defesa da capital portuguesa.
Trata-se, como sublinha Valentino Viegas, do maior número de doações individuais de toda a vida de João I, totalizando, só durante Setembro, cerca de 130, pelas quais são beneficiados os seus vassalos, escudeiros e criados, algumas figuras nobres e respectivos vassalos e escudeiros, diversos mestres de naus, comendadores das ordens militares, clérigos, etc.. Quanto a Antão Vasques, que Fernão Lopes integra precisamente na lista dos que ao Mestre foram companheiros em defender o reino de seus inimigos, recebe então de João I, em recompensa pelas suas acções e serviços anteriores, mas também pelos que dele esperava ainda vir a receber, o lugar de Unhos e a adega de Camarate. Nesse documento, datado do dia 10 de Setembro de 1384, ou seja, lavrado nem uma semana depois da partida da hoste inimiga, o Mestre de Avis identifica-o como cavaleiro morador em Lisboa. Reencontramo-lo, já em finais de Dezembro, entre as forças que cercaram Torres Vedras, tendo muito provavelmente integrado os contingentes que, sob o comando do Mestre, partiram da capital para se juntarem às forças de Diogo Lopes Pacheco que, em Outubro, tinham dado início a essa operação, mas que, em resultado de alguma falta de efectivos, se defrontavam com grandes dificuldades. Com a chegada da hoste a Torres Vedras, foi entregue a Antão Vasques o comando de um contingente encarregado de manter sob apertada vigilância uma das portas da vila, de modo a evitar que fosse usada pelo adversário para o lançamento de surtidas. Contudo, a tentativa de assassinato do Mestre, por um lado, e a forte resistência demonstrada pelos sitiados, por outro, levou a que João I decidisse interromper o cerco e avançar para Coimbra, para onde estavam marcadas as cortes e onde começavam já a chegar os primeiros procuradores. Não admira, pois, que Antão Vasques esteja presente nas cortes de Março de 1385, nas quais o Mestre de Avis foi eleito, seguramente que com o seu apoio, como rei de Portugal. Com efeito, entre os que participaram nessa assembleia encontramos, como seria de esperar, o seu nome, arrolado por Fernão Lopes no grupo dos cavaleiros.
Como assinalou João Gouveia Monteiro, tanto o rei quanto o condestável escolheram o Minho como palco das acções militares conduzidas depois das cortes de Coimbra. Nesse sentido, é muito natural que, desde logo, Antão Vasques tenha regressado às fileiras do exército de Nuno Álvares, com o qual mantinha uma estreita relação desde a primavera do ano anterior, e, como tal, que tenha participado, durante o mês de Abril e primeiras semanas de Maio, na conquista das praças-fortes de Neiva, Viana, Cerveira e Caminha, tendo igualmente estado presente na tomada de Braga. Já em meados de Maio, Antão Vasques participará também na conquista de Ponte de Lima, uma operação conduzida em conjunto por João I, que deixara o grosso das suas forças a manter o cerco a Guimarães, e pelo exército de Nuno Álvares, a que se tinham já juntado alguns dos auxiliares ingleses que, dias antes, haviam desembarcado no Porto». In Miguel Gomes Martins, Guerreiros Medievais Portugueses, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2013, ISBN 978-989-626-486-4.

Cortesia ELivros/JDACT