quinta-feira, 2 de julho de 2015

Poesia. Erotismo. Maria Tereza Horta. «Pedir-te da vertigem a certeza que tens nos olhos quando me desejas. Pedir-te sobre a mão a boca inchada um rasto de saliva na garganta»

Chichorro 
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Invocação ao amor
«Pedir-te a sensação
a água
o travo,
aquele odor antigo
de uma parede
branca.
Pedir-te da vertigem
a certeza
que tens nos olhos
quando me desejas.
Pedir-te sobre a mão
a boca inchada
um rasto de saliva
na garganta.
Pedir-te que me dispas
e me deites
de borco e os meus seios
na tua cara.
Pedir-te que me olhes
e me aceites
me percorras
me invadas
me pressintas.
Pedir-te que me peças
que te queira
no separar das horas
sobre a língua».


Encontro
«Com virilidade, com ócio
e com ausência
de oceano
com ébano
e por fraqueza
com suporte orgânico
refiro-me aos teus
dedos
longos locais claros
para inventar
nas ancas».



Voragem
«Não sei desta voragem
no teu corpo
esta espécie de odor
ou de viagem
não sei deste sabor
ou desta cinza
desta aguda lentidão
camuflada».


Hálito
«E vertical o hálito
é saudade
o frio que amanhece
sobre os vidros.
Debaixo dos lençóis
vou-me vestindo
com as tuas mãos
num vagar antigo».
Poemas de Maria Tereza Horta, in ‘As Palavras do Corpo

In Maria Tereza Horta, As Palavras do Corpo, Publicações dom Quixote, Lisboa, 2014, ISBN 978-972-204-903-0.

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