Nota: A quase totalidade deste texto
foi extraído, com a devida vénia, da revista Ingenium, II Série, N.º 35, Março
de 1999. Algumas frases estão ligeiramente alteradas, mantendo o mesmo sentido,
outras são nossas, incluindo o título.
«(…) O nome Bourbaki é de origem grega. Na cidade de Nancy, onde alguns dos membros Bourbaky nasceram, há uma estátua do hilariante general Charles Sauter Bourbaki a quem, em 1862, foi oferecido o trono da Grécia, que este rejeitou. Aliás, este general participou na guerra franco-prussiana, com notariedade.
Histórias do Arco da Velha
«(…) O nome Bourbaki é de origem grega. Na cidade de Nancy, onde alguns dos membros Bourbaky nasceram, há uma estátua do hilariante general Charles Sauter Bourbaki a quem, em 1862, foi oferecido o trono da Grécia, que este rejeitou. Aliás, este general participou na guerra franco-prussiana, com notariedade.
Histórias do Arco da Velha
Visto de fora, um congresso
Bourbaki parecia um bando de loucos. Nos ano 30, a dona da pensão onde o grupo
se encontrava, para mais um congresso, chamou a polícia às duas manhã, já que
lhe parecia um grupo de maníacos fugidos de um manicómio que existia próximo. A
II Guerra Mundial interrompeu quase totalmente o projecto Well, um dos
elementos do grupo, foi apanhado pela guerra, na Finlândia, e acusado de ser
espião russo. Tinha na mala maços de cartões-de-visita de um desconhecido N.
Bourbaki, membro de uma suspeitíssima Academia da Poldávia, e até os convites
para o casamento de Betti Bourbaki. Impossível convencer as autoridades de que
se tratava de uma brincadeira inocente. Well foi condenado à morte e salvo por
horas, pelo matemático R. Nevarilirma. Em França, Laurent Schwartz, o
criador das distribuições e medalha Fields em 1950, teve de passar à clandestinidade e mudar o seu nome judeu
para o aristocrático Sélimartin, falsificando
a assinatura e escapando às deportações. Até Freymann, o editor de Bourbaki, teve problemas. Numa
rusga, as autoridades nazis encontraram a lista de nomes que compunham Bourbaki, convencendo-se de que
se tratava de um núcleo da Resistência.
Finalmente o reconhecimento
Finalmente o reconhecimento
Após a guerra, o grupo renasceu.
Em face da reforma obrigatória aos 50 anos, Bourbaki
era forçado a renovar-se. Instituiu-se, assim, nos congressos a presença das cobaias, jovens prometedores convidados
a assistir a um congresso. Sem o saberem, eram atentamente observados quanto ao
cumprimento dos rituais bourbakistas. Caso fossem aprovados, passariam a
integrar o grupo. Foi assim recrutada a segunda geração, com nomes ilustres
como Samuel, Serre (futuro medalha Fields), Diximer, Godement e
Filenberg. E a terceira, com Cartier, Grothendleck, Borel, Bruhat, Lang.
Os anos 50 e 60 são a época de ouro de Bourbaki.
Os Élements de Mathématique cresciam e cristalizavam. Em 1965, como está dito atrás, foi editado o trigésimo primeiro
volume. A influência de Bourbaki
em todo o mundo matemático era cada vez maior. Bourbaki era o ideal, o padrão. O seu método de despir um
problema de tudo quanto é acessório, conservando apenas a estrutura matemática necessária
para a construção da teoria, tornou-se o paradigma de investigação em Matemática.
Bourbaki criou a noção de estrutura
matemática. Até em termos de nomenclatura Bourbaki tomou de assalto o poder
intelectual. Termos hoje vulgares na escola, como injectivo, sobrejectivo, bola ou o símbolo ø para o conjunto vazio, são criações de Bourbaki». In Armando Araújo, Cinco Turcos
em Paris, Nicolas Bourbaki, Matemática Lúdica.
A amizade de Armando Araújo
Cortesia de AA/JDACT
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