Timor e a Geo-Política Regional. O post-Vietname/Camboja em 1975
«(…) Vietname e a Indonésia
surgiram com ambições expansionistas. A saída dos EUA do Vietname obrigou a RPC
a ter de compensar essa influência, temendo o excessivo poder soviético e dos
seus aliados. Em 1979, ocorreu a
invasão do Camboja pelo Vietname e a deste pela República Popular da China. O
Japão continuou a sua ascensão económica e alargou a sua capacidade tecnológica.
A zona da ASEAN foi mantendo equilíbrio social e progressividade no desenvolvimento
económico. O mar continuou a ser um lago americano. A China e os EUA
aproximaram-se (entre 1972 e 1978) e as posições militares
extremaram-se da parte da União Soviética com qualquer destas potências.
Os anos 80
Este período foi marcado
em todo o mundo pelo efeito Gorbachev e pelas suas iniciativas, mas já apresentava
na região alguns indícios desde o início da década: Em 1980, em Camberra surgiu
o conceito de Comunidade do Pacífico, com o interesse manifestado pela
Austrália, Nova Zelândia e Canadá em se integrarem no conjunto. Na RP da China
ocorreram grandes alterações, com a liberalização económica do sistema, a
abertura ao investimento e ao know-how estrangeiros, bem como ao
turismo. Foi feita uma revisão dos princípios económicos da doutrina marxista-leninista-maoísta,
procurando corresponder à satisfação das necessidades das populações. Foram
anunciadas as grandes metas de modernização da China para o ano 2000 na
agricultura, indústria, Forças Armadas e na tecnologia. A RP da China tornou-se
menos internacionalista. Ocorreu a emergência do Japão como uma superpotência
económica, não o desejando ser em termos militares. Em 1987, 7 dos 10 maiores bancos mundiais eram japoneses, e em 1988,
dos 7 maiores, 6 eram nipónicos. O reforço dos interesses da União Soviética
com ambições no Pacífico e um crescimento do seu poder aeronaval. A quebra dos
EUA como superpotência económica, com a necessidade de tomar medidas
proteccionistas. O Japão tendeu a ocupar o papel de auxílio financeiro
desempenhado pelos EUA até então. Agudizou-se o conflito económico Japão-EUA. Os
EUA finalmente perceberam que não se resolvem problemas económicos e sociais
com ditaduras familiares ou militares e que nem tais sistemas defendiam
convenientemente os seus interesses; assim, apoiaram a transição para regimes
democráticos. A excessiva influência soviética ocorrida nos anos 75/79
teve agora o seu reflexo, pois a URSS mostrou-se incapaz de manter o apoio
económico aos seus satélites, Coreia do Norte, Vietname, Cuba, Nicarágua, etc.,
face às suas dificuldades internas. Manteve-se o desenvolvimento estável da
zona da ASEAN, onde apenas o caso das Filipinas foi excepção.
Singapura, Malásia,
Tailândia surgiram com as suas economias em grande expansão; o SE asiático
apresentava crescimentos do PNB sem competição em todo o mundo. E a Indonésia
emergia como uma potência regional de peso. Registou-se a fulgurante entrada em
cena dos 4 tigres asiáticos (Coreia
do Sul, Taiwan, Hong Kong, Singapura). Iniciou-se o retorno da influência
dos países europeus (França, Reino Unido, mas também a Alemanha, a Itália,
entre outros). Em 10 anos o comércio da CEE com o Pacífico triplicou. Entretanto
mantinham-se e foram desenvolvidos grandes dispositivos militares. Dez das
maiores Forças Armadas do mundo estavam no Pacífico: EUA, URSS, RP China, Japão,
Coreia do Norte, Coreia do Sul, Taiwan, Indonésia, Vietname, Tailândia. Necessidade
de serem revistos os sistemas político-económicos dos países comunistas do SE
asiático, que estavam à beira da falência, no sentido da sua liberalização e na
sequência das tentativas da URSS e da RP da China. Tendência progressiva para a
democratização dos regimes (em dez anos doze Nações modificaram os seus
sistemas e aceitaram o final do monopólio dos regimes de partido único), sendo
de salientar os casos da Coreia do Sul, Taiwan e Filipinas. Iniciaram-se
processos negociados no sentido da resolução pacífica de certas situações e de
alguns conflitos: A China, perante os casos de Hong Kong, Macau e Taiwan; As
questões que opunham a Rússia à China e ao Japão (problemas territoriais); O
problema interno do Camboja; Os desentendimentos entre a China e o Vietname; A
eventual reunificação da península coreana. Os EUA mantinham o controlo sobre
todo o conjunto de Arquipélagos do Pacífico interior situados no hemisfério
norte.
A década de 90
Apesar do que disse inicialmente, não se pode analisar a Bacia do
Pacífico sem a integrar na aceleração da História que ocorreu após a
queda do muro de Berlim. Foi neste contexto que nos encontrámos na década
de 90. Como fiz para as fases anteriores tentarei caracterizar o comportamento
dos actores durante esse período, introduzindo agora na perspectiva geopolítica
a questão de Timor. Com o golpe de Estado falhado na URSS em Agosto de 1991 pôs-se um final à Guerra Fria,
ou à III Guerra Mundial como lhe chamou Richard Nixon, mas a Federação
Russa não perdeu importância no Extremo Oriente e no Pacífico. Tem passado por
enormes dificuldades, mas nunca deixou de ser uma potência a considerar e ainda
não aceitou as reivindicações territoriais do Japão». In Garcia Leandro, Timor e a
Geo-Política Regional, Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão
Portuguesa, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, Roberto Carneiro, nº 7,
Timor Hoje, 2001.
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