Uma Vila Iluminista. A Casa de
Câmara e Cadeia
«(…) Em Linhares (com
inicio de construção provável no século XVII, mas de conclusão no reinado de
dona Maria), em Arouca (século XIX), em Macieira de Cambra (cerca de 1820)
e em Santiago do Cacém (1781) foram construídos edifícios
bastante simples, de planta rectangular e dois pisos, com escada interior. Linhares,
Macieira de Cambra e Santiago do Cacém mostram disposição interna semelhante à Casa
de Câmara de Manique: entrada a eixo dando acesso a um átrio. Neste piso
surgem mais dois compartimentos. A escada está localizada no eixo da entrada.
Em Linhares e Santiago do Cacém, a entrada encontra-se associada e uma janela
no piso superior. Todos os exemplos mostram cornijas e pilastras a marcar os
cantos e em Santiago do Cacém, o exemplo mais a Sul, vê-se um frontão
polilobado a reforçar o eixo da entrada e pináculos a encimar os cunhais das
extremidades. Em Arouca, Linhares e Santiago do Cacém, o piso superior é
constituído por três compartimentos, dos quais se salienta o salão nobre ou
sala das sessões. Disposição semelhante tem a Câmara de Manique do
Intendente.
Segundo Varela Gomes a
Casa de Câmara é aparentada com soluções usadas no Arsenal do Alfeite em
Lisboa, no antigo celeiro público e na cordoaria velha, essa escola sobriamente
barroca que surge ligada aos arquitectos e engenheiros portugueses na ponta
final do século XVIII. Dos dois últimos diz que se pode detectar uma escola
de um tardoclassicismo militar e austero que não fugia a soluções
barroquizantes. A Casa de Câmara e Cadeia funcionou enquanto tal até à
extinção do concelho de Manique do Intendente, corria o ano de 1835. A localidade passou de sede de
freguesia, primeiro pertencendo a Alcoentre e mais tarde à Azambuja (1855),
situação que se mantém actualmente. A Casa de Câmara funciona actualmente como
quartel da GNR, estando prevista a curto prazo a instalação de um Centro de Dia
na ala Oeste.
O Palácio do Intendente
Do Palácio, infelizmente
muito degradado (apesar de estar classificado como Imóvel de Interesse
Público pela DGEMN), apenas podemos ver duas fachadas incompletas, a
principal e uma das laterais (a Poente). Ao centro do palácio está a Igreja, à qual
se acede por uma escadaria e galilé abobadada formada por três arcos de
volta-perfeita. Esta, ligeiramente saliente, dá espaço, no piso superior, a uma
varanda com balaustrada, que serve três janelas de sacada encimadas por frontão
triangular. A terminar esta secção temos um frontão curvo, ligeiramente
abatido, onde se eleva um obelisco piramidal de grandes dimensões. As alas
laterais, simétricas, são animadas por um conjunto porta (com rusticado) e
varanda balaustrada, saliente, ao centro, e no extremo existente ergue-se semelhante
conjunto. O palácio tem dois pisos e um meio piso, sendo a divisão entre os dois
primeiros feita por intermédio de um friso em pedra. Os vãos são janelas altas,
de peitoril no piso térreo e de avental trabalhado no segundo piso. O meio piso
tem óculos elípticos, que irrompem na linha da cornija. Coroando a fachada
corre uma balaustrada pontuada por estátuas sobre socos, representando as
existentes a forma de Elmo e Couraça, do século XVII, com bandeiras
pendentes nos espaldares da armadura. Esta composição, com igreja ao
centro e dois arremedos de torreões aos extremos, é estranha à tradição dos
palácios e casas nobres portugueses. Estes, na generalidade dos casos,
possuem apenas capelas familiares, com papel importante no desenho dos
edifícios, é certo, mas surgindo usualmente numa extremidade, como
prolongamento dos mesmos. A constituição do Palácio de Manique lembra,
salvaguardadas as devidas diferenças (sobretudo em termos de escala), o
palácio-convento de Mafra, pela colocação da Igreja a marcar o eixo central.
Segundo Varela Gomes o Palácio terá semelhanças com desenhos de Fabri para a Ajuda,
pela clara opção neoclássica, e reminiscências de fontanários de José Manuel Negreiros,
pela solução fortemente ecléctica patente no frontão quebrado e obelisco». In
Cátia Gonçalves Marques, Departamento de Arquitectura da FCTUC, Junho de 2004.
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