sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A Igreja de S. Paulo. Macau. Gonçalo Couceiro. «… acrescenta que os portugueses negociavam já ao longo da China em vários portos e cerca de 1554-5 começaram a negociar em Lampacau e em Macau; mas a feira anual fez-se em Lampacau até 1557»

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Macau e a Expansão Missionária no Extremo-Oriente
«(…) A 23 de Janeiro de 1576, o papa Gregório XIII criava o bispado de Macau a pedido do rei Sebastião I, pela bula Super Specula Militantis Ecclesiae, bispado de que dependiam a China e o Japão. Macau ficava a partir de então separada da diocese de Malaca, que fora criada em 1557. Os jesuítas foram os primeiros religiosos a ter sede própria em Macau, a partir de 1565, data após a qual se fez a fixação dos religiosos capuchinhos de S. Francisco, em 1679, dos eremitas de S. Francisco, em 1679, dos eremitas de S. Agostinho, em 1586 e dos dominicanos em 1588. O papel mais importante na História das Missões no Extremo-Oriente caberia à Companhia de Jesus, tanto na China como no Japão. Em Macau, a acrescer à assistência religiosa que prestavam à população europeia, desenvolveram desde o início uma acção apostólica junto dos chineses deste porto, abriram escolas para os filhos dos colonos, criaram um seminário e tiveram mesmo uma influência decisiva na organização e na defesa da cidade, encarregando-se dos planos e da construção dos baluartes e das fortalezas (no plano da defesa militar a colaboração dos jesuítas é mencionada num documento que se encontra no Arquivo Histórico de Madrid escrito em Macau, em 1623 pelo padre Jerónimo Rodrigues, visitador da província do Japão e vice-provincial da China, donde transcrevemos alguns extractos: ... que andando em guerras os Chinas com os Tártaros, parecendo aos pes. da compa. que na China andão boa ocasião para acreditar naquele reino a Nação Portuguesa, e dar entrada nelle aos portugueses, a qual até agora estava fechada, e para com isso conservarem com mais firmeza a Cidade de Macao, e trato de que depende todo o estado, fizeram com el-rei da China por meio de alguns mandarins cristãos que mandasse a esta cidade pedir alguns portugueses para acudirem na dita guerra, o que se teve por grande alvitre e bem da mesma cidade, e assim por via e graças dos padres são tidos à corte, e recebidos nella com grande honra, coisa que até agora nunca se esperou sendo muito desejada…). Macau, na sua qualidade de porta aberta pelos portugueses na China, foi assim o local que deu a oportunidade à Companhia de Jesus de protagonizar uma extraordinária aventura humana, que esteve na origem de uma impressionante obra missionária, científica e também artística, num diálogo inédito com o País do Meio, aventura essa que se inicia nos finais da dinastia Ming.

A chegada dos jesuítas a Macau
Se bem que a data da fundação de Macau, comumente aceite pelos investigadores, seja o ano de 1557, outros trabalhos publicados referem a permanência em 1555 naquele território de membros da Companhia de Jesus. Baseando-se na cópia de uma carta existente na Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa, que foi publicada em versões espanhola, italiana, latina e portuguesa, vários autores afirmaram sucessivamente que o padre Belchior Nunes Barreto, acompanhado de frei Fernão Mendes Pinto (tido como o célebre autor da Peregrinação) foram os primeiros jesuítas a desembarcar em Macau (Teixeira, Manuel, Primórdios de Macau, Instituto Cultural de Macau, 1990, Macau e a sua Diocese, onde se admite que em 1554-55 os portugueses negociaram já em Macau; Manuel Teixeira refere que a 23 de Novembro de 1555 o padre Barreto escrevia também uma carta de Macau (...) a 27 do mesmo mês, enviando de Macau uma carta em latim ao padre Geral da Ordem que conclui assim: …ex portu chinae filius prodigus Mr. Belchioi; este autor acrescenta que os portugueses negociavam já ao longo da China em vários portos e cerca de 1554-5 começaram a negociar em Lampacau e em Macau; mas a feira anual fez-se em Lampacau até 1557). Este facto foi investigado por Paul Pelliot que concluiu que não se tratava verdadeiramente de Macau, mas sim de Lampacao (Lang Bai Ao) o local de onde esta carta, de Belchior Barreto, assim como uma outra de Mendes Pinto, terão sido escritas, isto apesar do título da cópia de uma delas: … anno de 1555. Copia de hua carta de Fernão Mendes que escreveo Malaqua (aliás Macao) ao reitor do Collegio de Goa de 1555 anos, poder induzir em erro. A outra cópia de uma carta do padre Belchior Barreto, se bem que intitulada Copia de hua Carta que escreveo o pe. Mestre Belchior, de Macau, Porto da China, aos Irmãos do Collegio de Goa, escrita a 23 de Novembro de 1555 induziu em erro alguns investigadores, levando-os a crer que Belchior Barreto e Mendes Pinto foram os primeiros jesuítas a pisar o solo de Macau». In Gonçalo Couceiro, A Igreja de S. Paulo de Macau, Livros Horizonte, Estudos de Arte, Lisboa, 1997, Fundação Oriente, ISBN 972-241-015-6.

Cortesia de LHorizonte/FO/JDACT