terça-feira, 5 de janeiro de 2016

A mudança dos Estudos Gerais para Coimbra. João Paulo Costa. «Nos duzentos e vinte e oiro anos seguintes, a universidade mudou de localização por várias vezes, até se fixar definitivamente em Coimbra, em 1537»


wikipedia e jdact

15 de Fevereiro de 1309
«A primeira universidade portuguesa foi criada em 1290 e instalada inicialmente em Lisboa. Também nesta matéria, o rei Dinis I foi o promotor de uma reforma valorizadora do reino que o ajustava aos ventos que sopravam pela cristandade ocidental. Eram ainda poucos os estabelecimentos universitários existentes, desde que surgira o primeiro em Bolonha, já no ano distante de 1088. Oito anos depois Oxford abrira a segunda universidade europeia, e nos duzentos anos seguintes outras foram surgindo em França, na Itália, na Inglaterra e em Castela, sobretudo ao longo do século XIII. No reino vizinho, a primeira fora criada em Salamanca, em 1218, quando a cidade ainda pertencia à monarquia de Leão. Haveria, pois, uma dúzia de universidades quando o monarca Dinis I integrou Portugal no grupo restrito de reinos com estas escolas superiores.
O monarca esperava decerto que esta iniciativa proporcionasse a formação de novos quadros administrativos no próprio reino, atenuando a tutela cultural então exercida por Salamanca. No entanto, a primeira experiência foi marcada por incidentes e foi decidido mudar a sua localização, levando à sua mudança para Coimbra.
Se a decisão de criar os Estudos Gerais se enquadrou na política de afirmação nacional levada a cabo por Dinis I, comparável a outras como a nacionalização da Ordem de Santiago, a criação da Ordem de Cristo ou o desenvolvimento da marinha de guerra, a transferência da instituição para Coimbra teve um impacte mais estruturante na História de Portugal. Nos duzentos e vinte e oiro anos seguintes, a universidade mudou de localização por várias vezes, até se fixar definitivamente em Coimbra, em 1537. No entanto, começou nesse longínquo ano de 1309 a configuração da urbe conimbricense como a Cidade dos Estudantes».

14 de Março de 1319. A fundação da Ordem de Cristo
«A queda de São João de Acre, em 1291, assinalou o final da presença da cristandade latina na Terra Santa. As ordens militares que tinham sido criadas no início das cruzadas mantiveram a razão de ser na Península Ibérica, na medida em que persistia aí o reino de Granada e que do outro lado do estreito de Gibraltar a mourama continuava a flagelar a orla costeira dos reinos cristãos, como sucedia, aliás, por toda a costa algarvia. No entanto, noutras partes da Europa, as ordens tornaram-se num corpo estranho; a Ordem do Templo sobressaía pela sua grandeza e riqueza. Espalhados pela cristandade, os Templários eram olhados com inveja e os seus bens começaram a ser cobiçados tanto pelos príncipes como pelos bispos. Em 1307 iniciou-se o ataque perpetrado pelo rei de França com a conivência do papa e os cavaleiros do Tempo foram aprisionados, tendo começado a inquirição. Em 1312, a ordem foi abolida e os seus bens entregues aos Hospitalários, à excepção dos reinos peninsulares.
Dinis I acompanhou o processo com cautela e cedo se entendeu com os reis de Castela e de Aragão para garantir que o património da ordem em cada um dos reinos peninsulares era preservado e continuaria a servir os interesses das monarquias. Em Aragão, surgiu, em 1317, a Ordem de Montesa, e no ano seguinte o rei português solicitou a criação da Ordem de Cristo, que foi sancionada por João XXII através da bula Ad ea ex quibus. A sua sede era fixada em Castro Marim, única posição situada no Algarve, o que se ajustava à necessidade de associar a nova instituição à luta contra os mouros.
O mestre da nova ordem tinha de prestar juramento e menagem ao rei de Portugal, pelo que a Ordem de Cristo se tornava numa milícia ao serviço da Coroa que, além de poder servir para a luta contra os muçulmanos, integrava a estrutura militar do reino, como se provaria, quer no modo como os cavaleiros da ordem apoiaram o rei Dinis I na guerra civil de 1319 - 1324, quer na forma como participaram activamente na luta contra Castela na guerra de 1336 - 1339. Passada a fase inaugural, a sede da Ordem de Cristo foi transferida para Tomar em 1357, no centro dos seus domínios, e onde se localizara a sede da província portuguesa dos Templários.
A sua criação não resultou de uma política reformista de Dinis I, mas da reacção do monarca a acontecimentos sucedidos noutras paragens. No entanto, temos de reconhecer que a decisão do rei acabou por corresponder a uma reforma estruturante com um impacto duradouro na vida do país, e passado um século a ordem foi uma instituição determinante no arranque dos Descobrimentos e no povoamento das ilhas atlânticas. Essa intervenção da ordem não foi, obviamente, pensada por el-rei Dinis I, mas o voluntarismo do infante Henrique e o sentido de oportunidade da Coroa no século XV acerca das cousas do mar beneficiaram do facto de o rei Lavrador ter dotado o reino com uma milícia nacional disponível para servir Portugal». In João Paulo Oliveira Costa, Episódios da Monarquia Portuguesa, Círculo de Leitores, Temas e Debates, 2013, ISBN 978-989-644-248-4.

Cortesia de CL/TDebates/JDACT