wikipedia e jdact
15
de Fevereiro de 1309
«A primeira
universidade portuguesa foi criada em 1290
e instalada inicialmente em Lisboa. Também nesta matéria, o rei Dinis I foi o promotor
de uma reforma valorizadora do reino que o ajustava aos ventos que sopravam pela
cristandade ocidental. Eram ainda poucos os estabelecimentos universitários existentes,
desde que surgira o primeiro em Bolonha, já no ano distante de 1088. Oito anos depois Oxford abrira
a segunda universidade europeia, e nos duzentos anos seguintes outras foram
surgindo em França, na Itália, na Inglaterra e em Castela, sobretudo ao longo do
século XIII. No reino vizinho, a primeira fora criada em Salamanca, em 1218, quando a cidade ainda pertencia à
monarquia de Leão. Haveria, pois, uma dúzia de universidades quando o monarca Dinis
I integrou Portugal no grupo restrito de reinos com estas escolas superiores.
O monarca
esperava decerto que esta iniciativa proporcionasse a formação de novos quadros
administrativos no próprio reino, atenuando a tutela cultural então exercida por
Salamanca. No entanto, a primeira experiência foi marcada por incidentes e foi decidido
mudar a sua localização, levando à sua mudança para Coimbra.
Se a
decisão de criar os Estudos Gerais se enquadrou na política de afirmação nacional levada
a cabo por Dinis I, comparável a outras como a nacionalização da Ordem de Santiago,
a criação da Ordem de Cristo ou o desenvolvimento da marinha de guerra, a transferência
da instituição para Coimbra teve um impacte mais estruturante na História de
Portugal. Nos duzentos e vinte e oiro anos seguintes, a universidade mudou de
localização por várias vezes, até se fixar definitivamente em Coimbra, em
1537. No entanto, começou nesse longínquo
ano de 1309 a configuração da urbe conimbricense
como a Cidade dos Estudantes».
14
de Março de 1319.
A fundação
da Ordem de Cristo
«A queda
de São João de Acre, em 1291, assinalou
o final da presença da cristandade latina na Terra Santa. As ordens militares
que tinham sido criadas no início das cruzadas mantiveram a razão de ser na
Península Ibérica, na medida em que persistia aí o reino de Granada e que do outro
lado do estreito de Gibraltar a mourama continuava a flagelar a orla costeira dos
reinos cristãos, como sucedia, aliás, por toda a costa algarvia. No entanto, noutras
partes da Europa, as ordens tornaram-se num corpo estranho; a Ordem do Templo sobressaía
pela sua grandeza e riqueza. Espalhados pela cristandade, os Templários eram olhados
com inveja e os seus bens começaram a ser cobiçados tanto pelos príncipes como pelos
bispos. Em 1307 iniciou-se o ataque perpetrado
pelo rei de França com a conivência do papa e os cavaleiros do Tempo foram
aprisionados, tendo começado a inquirição. Em 1312, a ordem foi abolida e os seus bens entregues aos Hospitalários,
à excepção dos reinos peninsulares.
Dinis
I acompanhou o processo com cautela e cedo se entendeu com os reis de Castela e
de Aragão para garantir que o património da ordem em cada um dos reinos
peninsulares era preservado e continuaria a servir os interesses das monarquias.
Em Aragão, surgiu, em 1317, a
Ordem
de Montesa, e no ano seguinte o rei português solicitou a criação da Ordem
de Cristo, que foi sancionada por João XXII através da bula Ad ea ex quibus. A sua sede era fixada
em Castro Marim, única posição situada no Algarve, o que se ajustava à necessidade
de associar a nova instituição à luta contra os mouros.
O mestre
da nova ordem tinha de prestar juramento e menagem ao rei de Portugal, pelo que
a Ordem de Cristo se tornava numa milícia ao serviço da Coroa que, além de poder
servir para a luta contra os muçulmanos, integrava a estrutura militar do
reino, como se provaria, quer no modo como os cavaleiros da ordem apoiaram o
rei Dinis I na guerra civil de 1319 - 1324,
quer na forma como participaram activamente na luta contra Castela na guerra de 1336 - 1339. Passada a fase
inaugural, a sede da Ordem de Cristo foi transferida para Tomar em 1357, no centro dos seus domínios, e onde
se localizara a sede da província portuguesa dos Templários.
A sua
criação não resultou de uma política reformista de Dinis I, mas da reacção do monarca
a acontecimentos sucedidos noutras paragens. No entanto, temos de reconhecer que
a decisão do rei acabou por corresponder a uma reforma estruturante com um impacto
duradouro na vida do país, e passado um século a ordem foi uma instituição determinante
no arranque dos Descobrimentos e no povoamento das ilhas atlânticas. Essa intervenção
da ordem não foi, obviamente, pensada por el-rei Dinis I, mas o voluntarismo do
infante Henrique e o sentido de oportunidade da Coroa no século XV acerca das
cousas do mar beneficiaram do facto de o rei
Lavrador ter dotado o reino com uma milícia nacional disponível para servir
Portugal». In João Paulo Oliveira Costa, Episódios da Monarquia Portuguesa,
Círculo de Leitores, Temas e Debates, 2013, ISBN 978-989-644-248-4.
Cortesia
de CL/TDebates/JDACT