Cortesia
de wikipedia
A varanda
de Julieta
«Uma
vez, entrei em verona para não entrar
em veneza.
Entre o vê de verona e o vê
de veneza
optei por ver verona. Gostei da
coincidência
das consoantes na janela
de julieta;
e sei que em veneza não ouviria
o vento
da vingança, nem provaria o veneno
de uma
volúpia que só em verona se
desvanece
com a vida. Não há canais em
verona,
como em veneza; nem há janelas
em veneza,
como em verona; mas Julieta
espreita
a rua, da janela que é sua, e se
ninguém
diz a senha que só ela sabe, agita
o lenço
molhado pelas lágrimas que as
nuvens
bebem, levando-as de verona até
veneza,
onde a chuva as deita nos canais».
Rotina
«Ao
abrir a janela do quarto para outras
janelas
de outros quartos, ao veres a rua que desemboca
noutras
ruas, e as pessoas que se cruzam, no início da
manhã,
sem pensarem com quem se cruzam
em
cada início de manhã, talvez te apeteça
voltar
para dentro, onde ninguém te espera. Mas
o dia
nasceu, um outro dia, e a contagem do tempo
começou
a partir do momento em que
abriste
a janela, e em que todas as janelas
da rua
se abriram, como a tua. Então, resta-te
saber
com quem te irás cruzar, esta manhã: se
o
rosto que vais fixar por uns instantes, retribuirá
o teu
gesto; ou se alguém, no primeiro café que
tomares,
te devolverá a mesma inquietação
que
saboreias, enquanto esperas que o líquido
arrefeça».
Poemas
de Nuno Júdice,
in ‘Pedro, lembrando Inês’
Depósito
Legal B-4776-2009
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