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de wikipedia e jdact
Séculos
XII a XX
A
reconquista da cidade e a primeira tentativa de restauração da diocese
«(…)
Odório estava directamente ligado à catedral cujo governo assegurava, na sua
qualidade de membro e dirigente do cabido viseense. Porque há que ter em conta
que a inexistência de um prelado próprio não era impeditiva do desenvolvimento
da igreja local, no sentido de existir um templo principal na cidade, em torno
do qual se agrupava um conjunto de cónegos, formando um cabido, como sucedia (e
sucede ainda hoje) em todas as catedrais. Em Viseu, a realidade capitular deste
século de dependência face a Coimbra começa a ser mais bem conhecida, graças às
investigações levadas a cabo por Anísio Sousa Saraiva, que mostram a
importância que o colégio canonical viseense tinha já por volta de 1110, período em que os condes
portucalenses fizeram de Viseu a sua capital, que se manteve como sede política
do condado até ao afastamento de dona Teresa, após a Batalha de S. Mamede. A Sé
de Viseu foi beneficiada pelo conde Henrique e por sua mulher com a
transferência da antiga catedral moçárabe, localizada na zona baixa da cidade,
para o cimo da colina, onde ganhava não só um novo edifício, mas também uma
renovada importância. Foi igualmente beneficiada com o apoio que dona Teresa
não pode ter deixado de dar à tentativa de autonomização do bispado ocorrida
por volta de 1119-1120, quando o cabido elegeu o prior Odório como bispo.
Foi uma tentativa gorada, pois logo Coimbra se lhe opôs, fazendo valer os seus
direitos de episcopado administrante48; mas mostra bem o grau de
desenvolvimento que, por essa altura, já tinha atingido a canónica viseense e,
por consequência, a igreja local.
Em
Lamego, a situação seria diversa, assim nos parece. Uma diferença fundamental,
logo à partida, é que, aqui, a presença e o apoio condal não se fizeram sentir
como em Viseu. Quanto ao cabido, é provável que, como diz a tradição, tenha
tido origem num templo da invocação de S. Sebastião, situado fora do espaço
muralhado, e na comunidade eclesiástica que aí se teria desenvolvido qual, a
certa altura, aparece designada como colegiada. Segundo M. Gonçalves Costa,
seria este o embrião do futuro cabido catedralício, o que parece muito provável,
dado que S. Sebastião foi, de facto, o primeiro orago da catedral lamecense,
antes de ser construído o edifício dedicado a Santa Maria. Afirma este mesmo autor
que, à frente desta comunidade, estaria um arcediago ou prior, que governava a
diocese nomeado por Coimbra. Discordamos desta afirmação; como vimos, estes
dignitários tinham diferentes funções e naturezas; à frente de uma comunidade
canonical está um prior ou um deão, não um arcediago (note-se que, no entanto,
o exercício das duas funções podia estar ligado a uma mesma pessoa, como sucedia,
no caso português, na Sé de Braga, cujo deão era também, por via de regra, o
arcediago do Couto; também em Castela são vários os exemplos de acumulação das
duas funções).
Todos
os dados que encontrámos apontam para que o governo de Lamego fosse feito por
um arcediago, o que significa, a nosso ver, que, e ao contrário do que se
passava em Viseu, não seria aquele que presidia ao cabido, o prior, a pessoa
que estaria encarregada de administrar a diocese sob as ordens de Coimbra. Vejamos
os elementos que conseguimos obter a partir das fontes compulsadas, e sabendo
que mais seria preciso analisar, a começar pelos valiosíssimos manuscritos
deixados por frei Joaquim de Santa Rosa Viterbo, hoje depositados na Biblioteca
Municipal de Viseu, que contêm a cópia de múltiplos documentos por ele
examinados e que mais tarde se perderam no incêndio que, no século XIX,
destruiu o seminário dessa cidade. Sem abonação que nos permita conhecer em que
se baseou, M. Gonçalves Costa refere Domingos como primeiro arcediago à frente
de Lamego, entre 1089 e 1099, a quem se seguiu, nesse último ano, um outro
arcediago, de nome Ero. De facto, em doação ao mosteiro de Anreade (concelho de
Resende) de 3 de Setembro de 1099, a corroboração é feita per jussionem,
isto é, por ordem de Ero, arcediago da Sé de Lamego, que volta a surgir em
venda concretizada dois anos mais tarde, em 1101 (Fig. 5), e cujo período de actuação M. Gonçalves Costa
estende até 1108. Este mesmo autor cita, depois, um Martinho, que o teria
substituído nesse mesmo ano, mas que designa-se como prior, remetendo para um documento
do mosteiro de S. João de Pendorada. Não refere o arcediago David que, em 1119, confirma uma doação a favor do
mosteiro de Arouca. Finalmente, como último arcediago conhecido, temos o já
mencionado Mónio, em 1128». In Maria do Rosário B. Morujão,
Espaço, Poder e Memória. A Catedral de
Lamego, Séculos XII a XX, Coordenação
de Anísio Miguel Sousa Saraiva, Estudos
de História Religiosa, Centro de Estudos de História Religiosa, Faculdade de
Teologia, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 2013, ISBN: 978-972-8361-57-0.
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